Tunisiana que vive no Cairo foi presa durante protesto

Youmna Lakhal não acreditava que protestos em massa fossem possíveis nos países e se diz ‘orgulhosa’

CAIRO – Youmna Lakhal vive uma dupla saga pela liberdade. Hoje com 23 anos, ela se mudou há 7 da Tunísia para o Egito. No mês passado, Youmna assistiu pela televisão à queda do ditador de sua terra natal, Zine El-Abidine Ben Ali, havia 23 anos no poder. Agora, a luta é contra o ditador de seu país adotivo, Hosni Mubarak. “Estou tão orgulhosa”, exclamava na Praça Tahrir ontem à noite Youmna, que trabalha como repórter da TV Shabab (Juventude) e como editora de cinema.

As conquistas não são sem custo para Youmna. Um primo seu, designer gráfico, morreu nos confrontos com a polícia na Tunísia. Ele tinha 23 anos, a mesma idade de Youmna, que viaja para a Tunísia duas vezes por ano e conversa com seus parentes lá toda semana. Durante a “revolução” tunisiana, ela tentou viajar para seu país, mas os vôos foram cancelados. “Eu não esperava. Honestamente, os tunisianos são covardes.”

Quando viu o que se passava na Tunísia, Youmna teve esperança de que o mesmo se repetisse no Egito, mas imaginou que ainda demorasse uns cinco anos. “Os egípcios são acomodados.”

Então veio a “revolução” egípcia. Youmna acompanhou seus preparativos pelo Facebook e participou desde o primeiro dia, 25. Estava na Praça Tahrir quando a polícia dispersou violentamente os manifestantes, no dia 26. Na confusão, perdeu sua bolsa, incluindo seu documento egípcio de identidade. No dia seguinte, voltou para a praça com seu passaporte tunisiano. Conseguiu entrar, mas a polícia confiscou o passaporte, o único documento que lhe restava.

No dia 1º de fevereiro, ela caminhava para a praça quando policiais e rapazes à paisana a agarraram na rua, gritando que ela era judia – Youmna usa piercings e roupas pretas ao estilo dos darks e punks ocidentais, não muito comuns entre as egípcias. Ela não tinha documentos para provar que é árabe.

O jornalista Khaled Dawoud, de 43 anos, licenciado do jornal Al-Ahram, do governo, interveio, e ambos foram levados num táxi para um quartel do Exército. “O que mais me aborreceu foi sermos esmurrados e chutados por garotos de 16, 18 anos”, recorda Dawoud. No quartel, viram muitos jornalistas estrangeiros. Dawoud finalmente conseguiu mostrar sua carteira do Al-Ahram, e ambos foram soltos, depois de uma hora de detenção.

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