Na Conferência de Paz que se realiza em Madri, o que eles não aceitam é um acordo de retirada parcial de Israel
Os palestinos estão dispostos a suspender a intifada (levante popular), que já dura quase quatro anos, para alcançar um compromisso de autonomia nos territórios ocupados. É o que afirma Maher Abukhater, editor do Al-Fajr, o principal jornal palestino, em entrevista ao Estado. De Jerusalém, o jornalista disse, no entanto, que os palestinos não aceitam um compromisso que inclua apenas parte dos territórios, como parece querer Israel.
Estado – O que você espera desta conferência de paz?
Maher Abukhater – Esperamos que a conferência conduza a uma solução para o conflito. Acreditamos mesmo que as coisas estão indo nesta direção, e que em breve nossa situação vai melhorar.
Estado – Os palestinos apóiam a proposta de cinco anos de autonomia nos territórios ocupados?
Abukhater – As pessoas sentem aqui que o status quo atual – com Israel decidindo o destino delas – não é aceitável. Portanto, qualquer coisa diferente disso tende a ser aceita, incluindo algum tipo de autonomia nos territórios ocupados, que finalmente conduzirá a um acordo que determinará nosso futuro, provavelmente numa confederação com a Jordânia.
Estado – Os palestinos aceitariam suspender a intifada e esperar por um acordo sobre o status final dos territórios?
Abukhater – Acho que sim. Acho que eles estão dispostos a aceitar a situação, embora não dependa apenas de nossa vontade. Mas creio que nos territórios ocupados, na medida em que as pessoas percebessem que as coisas estivessem mudando, apoiariam qualquer mudança que coloque um fim ao seu sofrimento.
Estado – Mas Israel diz que não aceita voltar às fronteiras anteriores a 1967. A delegação palestina aceitaria apenas parte dos territórios?
Abukhater – As áreas da Faixa de Gaza e da Cisjordânia correspondem a apenas 20% do que foi o território da Palestina, e que agora é Israel. Qualquer concessão a mais que os palestinos fizerem simplesmente os deixará sem nada, sem lugar para viver. Não há a disposição de aceitar um compromisso desse tipo.
Estado – Isso inclui Jerusalém Oriental?
Abukhater – Sim. Há 140 mil palestinos vivendo em Jerusalém, e sua ocupação é especialmente ilegal. As resoluções internacionais prevêem sua devolução, assim como a dos outros territórios ocupados.
Estado – Houve nesse processo um deslocamento de poder da OLP para os líderes dos territórios?
Abukhater – Não se trata de deslocamento de poder. A questão é que, neste momento, há um papel a ser desempenhado pelo povo da Palestina. Nos últimos 20 anos, a OLP foi o principal representante dos interesses palestinos. Hoje, são os líderes dos territórios que representam esses interesses. Mas é importante entender que há um trabalho coordenado, uma concordância, entre os palestinos em todos os lugares. Neste momento, foi dada aos palestinos daqui a autoridade para negociar. Eles falam em nome de todos os palestinos, tanto da área ocupada quanto do exterior.
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