Queda de apoio empurrou grupo para acordo com o Fatah, favorito para as próximas eleições nos territórios palestinos
RAMALLAH – Nas últimas eleições para o Parlamento palestino, em janeiro de 2006, o grupo fundamentalista islâmico Hamas obteve uma vitória convincente – e alarmante, do ponto de vista de Israel, de seus aliados americanos e dos doadores europeus aos palestinos -, elegendo 74 dos 132 deputados, ante 45 para a facção moderada Fatah. Depois de governar durante mais de seis anos a Faixa de Gaza, quatro dos quais sem a Fatah, que foi expulsa do território pelo Hamas, o grupo vê a sua popularidade corroída por uma desgastante relação cotidiana com os moradores do território.
O enfraquecimento político do Hamas explica, em parte, sua concordância a aceitar o acordo com o Fatah, cujo solapamento da base de apoio já vem de mais tempo. Sondagem feita pelo Centro Palestino de Políticas e Pesquisas (PSR) em março, no calor das manifestações que sacudiram o mundo árabe, indica que 67% dos moradores de Gaza apoiavam os protestos contra o governo local, enquanto que na Cisjordânia, administrada pela Fatah, essa cifra era de apenas 36% – pouco mais que a metade. Isso, num contexto em que o Fatah também tem sofrido de notável rejeição de parte dos palestinos, que o acusaram, sobretudo, de corrupção.
“As pessoas não estão necessariamente contentes com a situação na Cisjordânia, mas em Gaza a expectativa da população era muito maior que o que foi efetivamente realizado”, analisa Walid Ladadweh, pesquisador do instituto. “Em 2006, o Hamas ganhou a eleição com base numa imagem de luta contra a corrupção e de resistência (à ocupação israelense”, lembrou Ladadweh. “Em alguns casos, o Hamas usou a violência contra o povo, além de tolher as ações da Jihad Islâmica”, encarregando-se da estratégia da luta contra Israel e decidindo quando seria recomendável atacar o inimigo.
O pesquisador, cujo instituto é custeado pela Fundação Konrad Adenauer, da Alemanha, entre outros, observa que o Hamas tem comportamentos diferentes na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. “Por causa da ocupação israelense, na Cisjordânia as pessoas são menos inclinadas e opor-se à Autoridade Palestina, porque a alternativa é Israel”, dominada pelo Fatah. Israel retirou-se completamente da Faixa de Gaza em 2005.
De acordo com a pesquisa do instituto, se as eleições fossem em março, 40% votariam no Fatah, 24% no Hamas, 11% noutros grupos e 22% se absteriam – num sinal da visível descrença com as facções palestinas. O Fatah venceria tanto na Faixa de Gaza quando na Cisjordânia; 42% a 33% na primeira e 39% a 21% na segunda. Ladadweh, cujo instituto faz pesquisas a cada três meses, acredita que os resultados da próxima, em junho, não serão muito diferentes.
Ele diz que os palestinos votarão segundo os seguintes critérios: quem se mantém firme na exigência de Jerusalém Oriental como capital do futuro Estado palestino, ao fim dos assentamentos judaicos na Cisjordânia e ao direito de retorno dos (4 milhões de) refugiados; quem conduzirá reformas, garantirá a liberdade de expressão e combaterá a corrupção. As pesquisas ouvem uma amostra de 1.230 entrevistados – de uma população de 3,8 milhões – e tem margem de erro de 3 pontos porcentuais.
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