Líder do Hezbollah diz que sangue libanês ‘não foi derramado em vão’ e aconselha árabes israelenses a fugir de Haifa
BEIRUTE – O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, fez ontem uma espécie de “pronunciamento à nação”, no qual confirmou oficialmente sua adesão à proposta do governo libanês de enviar 15 mil soldados do Exército nacional para ocupar o Sul do Líbano, em troca da retirada de Israel e da desmobilização da milícia xiita. Num discurso de 40 minutos, transmitido na íntegra e ocupando dois terços dos principais telejornais noturnos, Nasrallah prometeu transformar o Sul do Líbano num “cemitério de sionistas”, advertiu os árabes israelenses de Haifa para que abandonem a cidade israelense e pediu aos libaneses para “ter paciência e agüentar firme, porque seu sangue não foi derramado em vão”.
Nasrallah afirmou que o Hezbollah lançou ontem mais de 350 foguetes contra Israel, e que mais de cem militares israelenses foram mortos desde o início do conflito, dia 12. Segundo ele, Israel não consegue avançar no Sul, e os combates ainda ocorrem em Ait al-Shaab, na fronteira. “Nós poderíamos recuar, mas nossos combatentes não querem. A resistência islâmica está fazendo milagre.”
Num tom de voz irreconhecivelmente sereno e até afetuoso, que não lembra em nada o Nasrallah que costuma esbravejar para a sua audiência xiita, o líder explicou por que resistiu antes à substituição do Hezbollah pelo Exército libanês: “Não é que nós não confiemos no Exército. Tínhamos receio de que, mal equipado, ele fosse destruído pelo inimigo. Seria como colocá-lo na boca do dragão.” Ele explicou que Israel não consegue destruir o Hezbollah porque não consegue encontrá-lo. Já com o Exército seria diferente.
Mas, prosseguiu Nasrallah, o governo libanês achou que a solução seria enviar o Exército para o Sul, e o Hezbollah apóia a idéia, em nome da união nacional. “É melhor que uma força internacional, cujo objetivo não sabemos qual é.” Ele acrescentou, no entanto, que a Finul, a força de observação da ONU, pode continuar no Sul e apoiar o Exército. Ao mesmo tempo, Nasrallah decretou disse que “não existe mais” a resolução 1559 da ONU, que determinou no ano passado a retirada das tropas sírias, o destacamento do Exército libanês no Sul e o desarmamento do Hezbollah. “Ela foi feita só para abrir caminho para essa invasão israelense.”
“Quero mandar uma mensagem a Haifa”, disse Nasrallah, referindo-se ao ataque com foguetes Katiucha que matou 15 pessoas e feriu 180, no domingo. “Estamos de luto por suas mortes como estamos pelas nossas. Quero que vocês saiam de Haifa e evitem mais sofrimento.”
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