BID vai patrocinar investimentos em esportes

Pelé vai ser garoto-propaganda dos programas da instituição na América Latina

SANTIAGO – Pausa para um café. Edson Arantes do Nascimento e os outros conferencistas descem do tablado. Uma pequena multidão, não só de jornalistas, mas também de participantes do seminário em busca de autógrafo, cercam Pelé antes que ele desça o último degrau. “É para o meu filho Rafael, de 13 anos”, explica o consultor de investimentos Roberto Argueio, da Nicarágua, tirando de uma sacola duas bolas e um livro sobre Pelé para o Rei autografar.

O assédio da platéia formada de investidores, executivos de multinacionais e dirigentes esportivos comprova a eficácia da nova estratégia do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O vice-presidente do BID para Planejamento e Administração, o brasileiro Paulo Paiva, aproveitou a reunião anual da instituição, em Santiago, para lançar Pelé garoto-propaganda de um programa de fomento dos esportes na América Latina.

“O BID está aberto”, disse Paiva ao Estado. “É só apresentar projeto.” O Brasil deve liderar a preparação dos projetos para a região. O ministro dos Esportes e do Turismo, Carlos Melles, era procurado ontem durante o seminário a cada instante por colegas de outros países, para discutir meios de aproveitar a oportunidade aberta pelo BID. Paiva, ex-ministro do Trabalho (1995-98) e do Planejamento (1998-99), mostrou, com números e argumentos, por que o BID acha que o fomento dos esportes pode ajudar no desenvolvimento dos países da região.

Nos Estados Unidos, as atividades relacionadas com os esportes empregam mais de 800 mil pessoas; na União Européia, cerca de 2 milhões. “O esporte é um elemento estimulador da formação integral das crianças”, acrescentou Paiva. “E a boa formação das crianças é uma garantia de desenvolvimento econômico no futuro.”

Num sinal dos tempos, no entanto, o seminário concentrou-se não na oferta de recursos pelo BID ou, eventualmente, pelos governos da região, mas nas condições necessárias para atrair investimentos privados. Os próprios dirigentes esportivos reconheceram que as estruturas arcaicas dos clubes e das entidades de futebol – quase sinônimo de “esporte” na América Latina – têm sido o maior entrave.

Um trabalho apresentado por Miguel Angel Arrigoni, da filial argentina da consultoria Deloitte Touche Tohmatsu, colocou as conseqüências disso em números. Enquanto na Argentina a venda dos passes dos jogadores é a maior fonte de recursos para os clubes (31%), na Inglaterra, Espanha e Itália, a maior fatia vem ou dos direitos de transmissão pela TV ou da venda de ingressos.

Ironicamente, são esses jogadores “exportados” da América Latina que vão brilhar nos estádios da Europa e engordar as receitas dos clubes europeus. O número médio de torcedores por partida nos estádios da Inglaterra e da Itália supera os 30 mil; na Espanha, os 27 mil; na Argentina, não chega a 8 mil. A falta de rentabilidade leva à falta de jogadores, que leva à falta de emoções, que reduz a rentabilidade.

“Dentro do campo, temos trabalhado muito bem, conseguimos competir em igualdade de condições com a Europa”, disse Hélio Viana, presidente da Pelé Sports. “Nosso problema é nossa falta de capacidade de elaborar projetos e de nos organizarmos.” O investidor, compara Viana, é um pássaro assustado: “Se você não criar condições para o pássaro não ter medo, jamais vai tê-lo por perto.” Essas condições começam a ser criadas no Brasil, assegura Viana.

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