Alguns países aumentaram competitividade, outros, como o Brasil, perderam participação no mercado.
SANTIAGO – Os programas de abertura e reformas estruturais com os quais a América Latina e o Caribe ingressaram na era da globalização renderam dividendos bastante desiguais para os diferentes países. O México, os principais países da América Central, a Argentina e o Chile ganharam competitividade ou ficaram onde estavam. Já o restante da América do Sul, incluindo o Brasil, e algumas ilhas do Caribe tiveram suas cotas de participação no mercado mundial reduzidas.
A conclusão é de um estudo apresentado ontem em Santiago, no primeiro dia da Reunião Anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O levantamento foi feito com base no programa de tabulação Análise Competitiva das Nações (ou CAN 2000), da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), resultando num balanço de uma década de abertura e desregulamentação na região.
De acordo com a CAN 2000, o país da América Latina e Caribe que mais ganhou competitividade entre 1985 e 1998 foi o México, aumentando sua cota de participação no mercado mundial de 1,55% para 2,24%. A Argentina ficou em segundo lugar, subindo de 0,37% para 0,51%, seguida pelo Chile, que foi de 0,23% para 0,32%. Em pontos porcentuais, o Brasil foi o que mais perdeu: sua fatia encolheu de 1,37% para 1,01%. Em segundo lugar no ranking dos perdedores vem a Venezuela, que caiu de 0,66% para 0,41%.
Em conjunto, a América do Sul teve sua participação no mercado mundial diminuída de 3,3% para 2,8% nesse período, enquanto o México e o Caribe aumentaram sua fatia de 2,2% para 2,9%.
Os autores do estudo, o canadense Michael Mortimore e o argentino Wilson Peres, ambos pesquisadores da Cepal, atribuem o contraste no desempenho às “diferenças de condições de articulação, mediante acordos comerciais, com distintos segmentos da economia mundial”.
No México e no Caribe, predominam as manufaturas a partir da montagem de componentes, exportadas para os Estados Unidos. “Essas exportações, fortemente concentradas nas indústrias automotriz, eletrônica e de confecções, são majoritariamente realizadas por filiais de empresas transnacionais que buscam eficiência, geralmente no âmbito de seus sistemas internacionais de produção integrada”, argumentam os autores.
Já na América do Sul, “dominam atividades de produção e processamento de recursos naturais”, embora haja também “certa presença de produtos manufaturados mais avançados no comércio intrarregional, como automóveis, particularmente no Mercosul”. Mortimore e Peres acham que foi justamente o regime automotivo do Mercosul que impulsionou a competitividade argentina.
A explicação para o êxito do Chile é que ele conseguiu grande diversificação dos destinos de suas exportações, aumentando suas vendas para os países industrializados, ao mesmo tempo em que a pauta segue baseada nos recursos naturais.
No caso do Brasil, os autores reconhecem que a pauta de exportações incorporou segmentos de elevado conteúdo tecnológico, como aviões, telefones celulares e computadores. Mas ponderam que o peso desses itens no total exportado “é pequeno e não há indicações de que possa crescer significativamente no curto prazo”.
Segundo dados apresentados por outros dois pesquisadores da Cepal, o italiano Giovanni Stumpo e o argentino Jorge Katz, entre 1970 e 1999, a participação dos setores intensivos em recursos naturais no total de exportações do Brasil aumentou de 42,2% para 46,3%; já no México, ela caiu de 49,4% para 45,1%. A fatia dos setores intensivos em engenharia no Brasil subiu de 28,7% para 30,6%; no México, de 20,5% para 32,1%.
A América do Sul, concluem os autores, “não tem sido pólo de atração de investimentos estrangeiros diretos das empresas que desenvolvem sistemas internacionais de produção integrada para obter mais eficiência em suas operações”. Esses investimentos têm sido feitos na região por transnacionais em busca dos mercados domésticos de serviços, como telecomunicações, eletricidade e serviços financeiros. “Essas atividades, ainda que possam ter efeito positivo sobre a competitividade sistêmica dos países, não têm impacto direto sobre a dinâmica de sua cota no mercado internacional.”