Amã confirma expulsão de diplomatas iraquianos

Mas nega que medida tenha sido resultado de pressão dos Estados Unidos

AMÃ – O primeiro-ministro da Jordânia, Ali Abul Ragheb, confirmou a expulsão ontem de cinco diplomatas iraquianos, mas negou que ela tenha sido resultado de pressões americanas para fechar a embaixada do Iraque em Amã.

“Eles estavam realizando atividades que ultrapassam suas funções diplomáticas”, disse Ragheb. “E violaram o acordo de segurança entre os dois países. A medida não tem nada a ver com indicações de nenhum país. Trata-se estritamente de uma questão entre os governos da Jordânia e do Iraque, e não está relacionada com o atual conflito”, assegurou o primeiro-ministro, afastando a hipótese de influência americana no caso. “A embaixada iraquiana em Amã continuará aberta.” Os diplomatas iraquianos restantes – 19 – “são bem-vindos aqui”, disse ele.

Segundo Ragheb, no total sete diplomatas foram apontados como suspeitos dessas “atividades não compatíveis com as de diplomatas” – eufemismo usual para espionagem -, dois dos quais foram mantidos em Amã. Os cinco diplomatas expulsos são do nível de primeiros-secretários. O embaixador, o cônsul e outros diplomatas de nível mais alto permanecem em Amã.

Em outro tópico politicamente sensível para o governo jordaniano, devido ao forte repúdio da população à guerra, o primeiro-ministro negou que tropas americanas estejam invadindo o Iraque a partir do território da Jordânia. “São rumores destinados a criar confusão”, rechaçou. “Nossa terra não servirá de plataforma de lançamento para a guerra.”

Ragheb admitiu que há soldados americanos na região da fronteira, mas garantiu que sua missão é exclusivamente operar as baterias de mísseis Patriot, ali instaladas para interceptar eventuais mísseis iraquianos lançados contra Israel.

À pergunta sobre quantos soldados americanos estão na Jordânia, o primeiro-ministro foi categórico: “Essa é uma informação confidencial e não vou revelá-la.” As informações, veiculadas pelas emissoras de TV, de que tropas americanas “no oeste do Iraque” teriam sido repelidas pelos soldados iraquianos e obrigadas a “recuar” levantaram fortes suspeitas de que seu ponto de partida fosse a Jordânia. As suspeitas foram reforçadas pelo sutil movimento de caminhões americanos e o intenso tráfego de aviões militares observados por jornalistas na região da fronteira.

“É a primeira vez que ouço falar de movimento de tropas americanas na Jordânia”, reiterou Ragheb. “Você deve ter visto caças F-16, não F-15, que a Jordânia não tem”, disse a uma jornalista, arrancando risadas no auditório cheio de jornalistas estrangeiros – há 900 deles em Amã.

Outro repórter perguntou ao primeiro-ministro sobre os “distúrbios” em Maan, reduto fundamentalista no sul do país, em decorrência da suposta “presença de tropas americanas na Jordânia”. De acordo com Ragheb, “está muito claro” para os jordanianos que “eles podem exprimir sua opinião de maneira pacífica”.

Nos últimos dias, contabilizou, houve 55 manifestações em todo o país. “A lei é clara: os manifestantes têm de pedir autorização que será concedida dependendo do local e da hora”, afirmou ele. “Se não for autorizada ou se houver distúrbios da ordem e ameaça à propriedade privada, a polícia dispersa os manifestantes.”

“Estamos com raiva”, disse o primeiro-ministro, referindo-se às mortes e ferimentos de civis no Iraque. “Achamos que os esforços diplomáticos deveriam ter sido levados adiante.” Ragheb considerou “muito dolorosas” as imagens das vítimas civis. “A população civil deveria ser protegida.” O primeiro-ministro reconheceu que, se a guerra se alongar por muito tempo, terá “implicações sociais e econômicas” sobre a Jordânia.

Segundo ele, setores como os de transportes, exportações e turismo são muito afetados, causando forte perda de arrecadação. O fornecimento de petróleo iraquiano, do qual depende a Jordânia, foi interrompido com a guerra, mas Ragheb garantiu que o país “tem reservas suficientes”.

O primeiro-ministro disse esperar que o novo plano de paz conhecido como “mapa da estrada” seja apresentado dentro de dez dias para os palestinos e israelenses. De acordo com Ragheb, o plano prevê a criação de um Estado palestino com base nas fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias (1967). É improvável que Israel – que há décadas promove assentamentos judaicos nos territórios ocupados em 1967 – aceite um acordo nessas bases.

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