PORLAMAR, VENEZUELA – Depois do discurso do presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, o anfitrião da cúpula América do Sul-África, Hugo Chávez, tomou a palavra: “Mugabe, esta cúpula o apoia, por sua luta anticolonialista.
Esse homem deu sua vida pelo Zimbábue.” Dificilmente Mugabe seria celebrado dessa maneira em qualquer outro fórum internacional. No poder desde a independência do país, há três décadas, Mugabe tem fraudado eleições e perseguido os opositores sistematicamente, expulsando os brancos de suas terras e destruindo casas e lojas dos que não o apoia.
Foi só mais uma de muitas declarações de amor pelas ditaduras sanguinárias que dominam a África. Ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e do anfitrião Chávez, a figura de maior destaque da cúpula foi o ditador líbio Muamar Kadafi, no poder há 40 anos. Tanto Chávez quanto o presidente boliviano, Evo Morales, declararam-se “admiradores” de Kadafi, que viajou pela primeira vez à América Latina, instalando sua tenda de beduíno ao lado do Hotel Hilton, onde se realizou o encontro.
A resolução em favor do presidente democraticamente eleito Manuel Zelaya e contra o “golpe” em Honduras foi aprovada, em grande parte, por ditadores africanos que nunca enfrentaram eleições de verdade nem permitem a alternância de poder em seus países – sem falar nas tendências dos presidentes populistas sul-americanos a perpetuar-se no poder e a atropelar a oposição e a liberdade de imprensa.
Em seu discurso de ontem, Lula pareceu responder indiretamente a essa contradição, ao afirmar que, para que a integração entre as duas regiões possa se dar, é preciso “respeitar os costumes políticos de cada país”. Lula fez questão também de dar um recado aos ditadores que enriquecem de forma obscena em meio à miséria de seus povos: “Não esperem a economia crescer para depois distribuir as riquezas.”