Empresas discutem responsabilidade social

Relação entre desenvolvimento sustentável e lucro é objeto de encontro.

RIO – A globalização mostrou uma face pouco conhecida ontem no Rio, em reunião de representantes das maiores empresas do Brasil com o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD), formado por 120 grandes companhias, na maioria multinacionais, que somam faturamento de US$ 3 trilhões. Brasileiros, europeus e americanos discutiram a relação entre as responsabilidades sociais e ambientais das empresas e o que todas elas buscam: lucro.

Em workshop a portas fechadas, ao qual o Estado teve acesso, executivos das grandes companhias do Brasil, integrantes do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), falaram sobre seus receios em relação à globalização e sobre suas estratégias para aumentar a competitividade. O pano de fundo da discussão, organizada pelo WBCSD, sediado em Genebra, foram os ganhos de eficiência e de imagem obtidos com processos de produção menos agressivos ao ambiente, com o respeito aos direitos trabalhistas e investimentos em áreas como saúde e educação – não só para os funcionários e suas famílias, mas também para a comunidade.

Os exemplos mais citados de como não agir foram o da Nike, alvo de boicote por acusação de uso de trabalho semiescravo na China e nas Filipinas, e o da Coca-Cola, com suas latas contaminadas na Bélgica. Falta de respeito, seja pelos empregados ou pelos consumidores, pode ser fatal. “Quanto tempo essas empresas levarão para recuperar a fatia de mercado perdida?”, perguntou o inglês Shaun Stewart, diretor de Assuntos Internacionais da Mineradora Rio Tinto.

A ligação causal entre lucro e responsabilidade social e ambiental, pela via da imagem, parece óbvia. Entretanto, há outra, mais direta, ilustrada por experiências vividas por empresas brasileiras e estrangeiras. Martha Lassance, assessora da presidência da Usiminas, contou que, com investimentos de R$ 40 milhões em saúde e R$ 22 milhões em educação e capacitação de 1994 a 1998, entre outros programas sociais e ambientais, a companhia alcançou índices como freqüência no trabalho de 97,98% e 0,04% de queixas trabalhistas.

A discussão não abrange benefícios apenas para as grandes empresas, seus funcionários e comunidade, mas também para as pequenas e médias empresas que lhes servem de fornecedoras. Er de Oliveira, gerente-geral da 3M do Brasil, contou que, graças a um programa conduzido há um ano e meio com três fornecedores na região de Campinas, para aumentar a integração e reduzir desperdícios, já foram cortados 12% dos custos. São medidas relativamente simples, como a de construir um tanque na fábrica, que poupou os fornecedores de comprar tambores.

Não há nada de novo em racionalizar custos, aumentar a integração ou investir em capacitação. O curioso do workshop realizado ontem na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) é o fato de uma entidade mundial, que representa transnacionais, se mostrar preocupada em estimular iniciativas no âmbito social e ambiental, procurando provar que elas são lucrativas. Mais que isso, os dirigentes do WBCSD presentes mostraram interesse pelos pontos de vista brasileiros sobre esses conceitos, como subsídios para seu próximo relatório anual, que deve sair em abril.

A entidade já realizou “diálogos”, como chama esses encontros, em Taiwan, Filipinas, Coréia, Tailândia e Gana, e segue para a Argentina dentro de uma semana e meia. Antes, porém, realiza, na semana que vem, no Rio, sua primeira reunião fora do eixo Europa-Estados Unidos. “Reconhecemos que era inadequado nosso programa concentrar-se na Europa e na América do Norte”, diz o inglês Mike Wright, diretor do Programa de Responsabilidade Social Corporativa. “Precisamos de uma perspectiva global.”

 

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