A paz culinária do velho Colony

No charmoso hotel de Jerusalém, povos dividem a mesa

Existe um lugar em Jerusalém onde, em vez de se chocarem, as civilizações se refugiam num diálogo atemporal. O lugar é uma curva, uma viela, um beco sem saída – e a imagem do que a Palestina poderia ter sido. O Hotel American Colony é, como o nome indica, uma antiga colônia americana, fundada há 120 anos, por uma família protestante do Ohio que veio para ficar mais perto de Deus.

Seu restaurante tem múltiplos ambientes. O mais convencional é um salão que foi um dia a sala de estar da família. Um pequeno lance de escadas abaixo, há uma taverna revestida de pedras, com poltronas em redor das mesas. Mas, se o clima e o horário permitirem, não hesite em se sentar no pátio interno do hotel, circundado pelas despojadas e magníficas suítes. Ali você pode comer e beber olhando para uma oliveira de vários séculos de idade.

O prato que, na minha opinião, mais define o lugar é o humus lamb, um picadinho de cordeiro frito que vem sobre uma porção de homus rodeada de tomates-cerejas e outra verdura fresca da hora (US$ 20). Se estiver com muito apetite, peça de entrada a salada da casa, de alface, lascas de tomate seco e de pimentão e cubos de queijo empanado, com uma cobertura de sementes de gergelim (US$ 9).

No verão (junho a setembro), o American Colony abre o seu Summer Bar, no esplêndido jardim da villa onde até hoje moram os descendentes da família fundadora da colônia. É aqui que você pode, num silencioso e tímido protesto contra a intolerância, comer porco na Terra Santa. Isso mesmo: o animal banido por dois dos três monoteísmos que frutificaram nesses desertos. São costelas avermelhadas, assadas no forno a lenha, guarnecidas por um espeto de cogumelo, abobrinha, berinjela e cebola, também assados. Para acompanhá-las, você escolhe a salada e o seu molho de três ou quatro opções (US$ 22). Mas fique apenas com folhas verdes com azeite e vinagre.

A geografia de bebidas do bar cobre todo o planeta, do rum cubano à vodca russa. Se você quiser que sua bebida também seja um statement contra os fundamentalismos, peça Taybeh, a cerveja palestina, feita em Ramallah, na Cisjordânia (US$ 3,90). Peça rápido. Quando o Hamas tomar a Cisjordânia, não haverá mais cerveja palestina.

Ah, não sei se é importante para você, mas, num capricho cosmopolita, o café do bar é Illy.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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