Olmert e Abbas marcam encontro

Líderes israelense e palestino se reunirão no Egito, na segunda-feira, para tentar retomar as negociações de paz

GAZA – O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, o presidente do Egito, Hosni Mubarak, e o rei Abdullah II da Jordânia se reunirão na segunda-feira no balneário egípcio de Sharm el-Sheik. No dia seguinte, Mubarak receberá o rei Abdullah da Arábia Saudita. Eles vão discutir formas de retomar o processo de paz no Oriente Médio e de apoiar o presidente palestino no seu confronto com o grupo fundamentalista Hamas, que tomou na semana passada a Faixa de Gaza das forças de segurança controladas pelo Fatah, facção secular dirigida por Abbas.

O negociador-chefe palestino, Saeb Erekat, disse que Abbas pedirá o reinício do diálogo com Israel, interrompido depois que o Hamas obteve maioria absoluta nas eleições parlamentares de janeiro do ano passado. “O tempo é a essência”, disse Erekat. “Temos de entregar (aos palestinos) o fim da ocupação, um Estado palestino. Se não tivermos esperança, o Hamas exportará o desespero para o povo.” Abbas formou na semana passada um governo de emergência, com um gabinete independente, que na prática governa apenas na Cisjordânia, enquanto o Hamas exerce controle total sobre a Faixa de Gaza.

Erekat citou a necessidade de tomar medidas imediatas para aliviar o sofrimento dos palestinos, como levantar os bloqueios militares israelenses na Cisjordânia e repassar cerca de US$ 600 milhões em receita de impostos bloqueada por Israel há um ano e meio, desde que o Hamas chegou ao poder. Com o bloqueio, os funcionários públicos palestinos – um terço dos empregados na Faixa de Gaza – têm recebido apenas metade de seus salários, quando recebem.

Olmert poderá anunciar o desbloqueio durante a cúpula. O primeiro contato de alto nível entre a Autoridade Palestina e Israel depois da crise ocorreu na quarta-feira. A chanceler israelense, Tzipi Livni, conversou pelo telefone com o novo primeiro-ministro palestino, Salam Fayyad, que acumula o cargo de ministro das Relações Exteriores.

Segundo analistas, os governantes árabes temem que o êxito do Hamas em Gaza sirva de incentivo para os grupos fundamentalistas que lhes fazem oposição em todos esses países. O caso egípcio é mais crítico. Ex-território egípcio, a Faixa de Gaza faz fronteira com o país, e o Hamas, fundado em 1987, inspirou-se na Irmandade Muçulmana, o mais tradicional grupo fundamentalista do Oriente Médio, baseado no Egito. “O Hamas é uma filial da Irmandade Muçulmana na Faixa de Gaza”, disse ao Estado uma bem-informada jornalista palestina. “Mubarak está desesperado por tê-los em Gaza, literalmente na porta do Egito.”

Para o ministro da Habitação israelense, Meir Sheetrit, que é também membro da Comissão de Defesa e Relações Exteriores do Parlamento, Israel deve pedir ao Egito que acabe com o contrabando de armas para Gaza. “Eles podem fazer isso, se quiserem”, disse ele.

Sondagem divulgada ontem pelo instituto independente Palestinian Center for Policy and Survey Research, baseado em Ramallah, indica que 75% dos palestinos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza apoiam a antecipação das eleições (previstas para 2010), considerada por dirigentes do Fatah como a forma de superar o impasse com o Hamas.

Segundo a pesquisa, feita com 1.270 palestinos, Abbas obteria 49% dos votos e o primeiro-ministro por ele destituído, Ismail Haniyeh, líder do Hamas, 45%. Se Marwan Barghouti, popular líder da nova geração do Fatah, pudesse participar, venceria Haniyeh por 59% a 35%. Barghouti foi condenado por Israel a cinco prisões perpétuas, por envolvimento em ataques terroristas. Numa comprovação do pessimismo expresso nas ruas, 70% dos entrevistados disseram que as chances de criação de um Estado palestino nos próximos cinco anos são remotas.

Israel permitiu a saída de cerca de cem palestinos que há vários dias se aglomeravam no túnel do posto de fronteira de Erez. Eles foram embarcados em ônibus na noite de quarta para quinta-feira e levados para o Egito, sob escolta de militares israelenses, informou o Jerusalem Post. De acordo com o jornal israelense, entre eles havia 32 homens envolvidos em atentados terroristas, que não poderão passar novamente por fronteiras de Israel. O Estado constatou que o túnel estava praticamente vazio ontem.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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