Fatah terá ajuda internacional

Sem o Hamas, novo governo palestino voltará a receber dinheiro dos americanos, europeus e até de Israel

RAMALLAH – A comunidade internacional retomará a ajuda econômica à Autoridade Palestina (AP) assim que seja formado um governo sem a presença do grupo fundamentalista Hamas. A informação foi confirmada ontem à agência Reuters pelo cônsul dos EUA em Jerusalém, Jacob Walles. ‘Não haverá obstáculos, econômica e politicamente, para se reengajar com esse governo’, disse Walles. ‘Eles terão apoio total.’

O Departamento de Estado americano divulgou um comunicado do quarteto – formado pelos EUA, União Européia, Rússia e ONU para promover a paz entre palestinos e israelenses – apoiando as decisões do presidente Mahmud Abbas de dissolver a coalizão com o Hamas, declarar estado de emergência e realizar uma consulta popular ‘no momento apropriado’.

Funcionários israelenses também confirmaram que Israel deverá restabelecer o repasse da receita de impostos, interrompido depois que o Hamas obteve maioria absoluta no Parlamento palestino e formou governo, em março de 2006. Mesmo com a criação, há três meses, de um ‘governo de unidade nacional’, com a participação da facção moderada Fatah, os recursos continuaram bloqueados. O motivo é a recusa do Hamas de reconhecer a existência de Israel e sua condenação dos acordos de paz. O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, chega hoje a Washington, onde deverá discutir com o presidente George W. Bush formas de ajudar o Fatah e isolar o Hamas, apoiado por Irã e Síria.

Abbas, líder do Fatah, deve empossar hoje o novo gabinete, comandado pelo ministro das Finanças, Salam Fayyad, respeitado no Ocidente como um tecnocrata independente. O presidente destituiu o primeiro-ministro Ismail Haniyeh, líder do Hamas, na quinta-feira. Na prática, os palestinos têm agora dois primeiros-ministros: um na Faixa de Gaza e outro na Cisjordânia.

Haniyeh descartou a criação de um Estado palestino separado na Faixa de Gaza, controlada militarmente pelo grupo fundamentalista desde quinta-feira. Em entrevista ao jornal francês Le Figaro, Haniyeh respondeu assim à pergunta sobre se o Hamas iria proclamar um Estado na região: ‘Não. Gaza pertence a todo o povo palestino, e não somente ao Hamas. Recusamos toda idéia de separação entre os territórios palestinos, entre Jerusalém Oriental, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, que são indissociáveis.’ Haniyeh disse que o Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza porque o Fatah estava ‘usando os serviços de segurança como se fossem uma milícia filiada a ele’.

Centenas de homens armados do Fatah, muitos deles encapuzados, invadiram o Parlamento, o gabinete do primeiro-ministro e o Ministério da Educação, em Ramallah, e hastearam bandeiras da Palestina e da facção nos telhados, gritando ‘Fora, Hamas’. Eles agrediram o vice-presidente do Parlamento, Hassan Kreisheh, um independente. E disseram que os funcionários ligados ao Hamas não poderiam voltar ao trabalho. Nem era preciso avisar. A maioria dos partidários do Hamas não está saindo às ruas na Cisjordânia. O Hamas ameaçou ontem retaliar contra o Fatah se os ataques não pararem.

Os militantes do Fatah traziam retratos do líder palestino Yasser Arafat, fundador da facção, em 1958. Em Gaza, a casa de Arafat, morto em 2004, foi invadida e seus objetos saqueados, segundo funcionários do Fatah.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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