Chanceler demissionário diz que decisão do líder Netanyahu é um erro
JERUSALÉM – Enquanto o primeiro-ministro Ariel Sharon dá sinais de que está iniciando uma recuperação extremamente lenta e de resultados incertos, a política israelense retoma o seu curso, premida pelo apertado calendário até a eleição de um novo Parlamento no dia 28 de março. Os três ministros do Likud, o partido de direita com o qual Sharon rompeu no ano passado, por causa de sua retirada da Faixa de Gaza, saíram ontem do gabinete, marcando a passagem do partido, do qual o primeiro-ministro era um dos ícones, para a oposição.
Mais do que uma ruptura com o governo, no entanto, a saída dos ministros expôs uma aguda divisão no interior do Likud, que, segundo as pesquisas, amargaria um terceiro lugar, se as eleições fossem hoje. A ordem da saída havia partido do líder do Likud, o ex-primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, na semana passada, mas fora por ele suspensa depois do derrame de Sharon, no dia 4. Com os partidos já compondo as suas listas de candidatos às eleições de março, Netanyahu ordenou, na noite de quarta-feira, que eles lhe entregassem suas cartas de renúncias às 10h da manhã de ontem.
Num sinal mal dissimulado de descontentamento, os ministros da Educação, Limor Livnat, da Saúde, Dan Naveh, e da Agricultura, Yisrael Katz, resolveram entregar suas cartas apenas à tarde, enquanto o ministro das Relações Exteriores, Silvan Shalom, o mais importante do Likud, anunciou que apresentaria a sua somente na próxima reunião do gabinete, no domingo.
Caberá a Netanyahu encaminhar as cartas de renúncia ao vice-primeiro-ministro e chefe interino de governo, Ehud Olmert. De acordo com uma fonte citada pelo Jerusalem Post, o chanceler Shalom “acredita que deixar o governo é um erro, que enfraquecerá o Likud”. Outras fontes se queixaram do “ultimato desrespeitoso” imposto por Netanyahu, que lembra o seu estilo rude de exercer a liderança do partido, à qual retornou no ano passado, com a saída de Sharon e de seus principais seguidores, incluindo Olmert.
As divisões do Likud são um mau presságio para o partido, que, segundo a última pesquisa, publicada na quarta-feira pelo jornal Haaretz, obteria apenas 13 das 120 cadeiras da Knesset (Parlamento). Em primeiro lugar, viria o Kadima, fundado por Sharon em novembro e agora sob a liderança de Olmert, com 44 deputados e uma vantagem folgada sobre o segundo colocado, o Partido Trabalhista, com 16. O desempenho do Kadima nas pesquisas já supera o alcançado sob a liderança de Sharon, quando lhe atribuíam 40 cadeiras.
De acordo com boletim médico divulgado ontem à noite pelo Hospital Hadassah, em cuja UTI neurológica Sharon se encontra desde o dia 4, uma tomografia computadorizada mostrou que os restos de sangue da hemorragia foram absorvidos. Com isso, os médicos removeram um tubo que tinham colocado no seu crânio, para reduzir a pressão no cérebro. Uma linha intravenosa foi colocada no braço de Sharon, cujo “batimento cardíaco é regular e a temperatura, normal”, diz o boletim.
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