Palestinos de Jerusalém Oriental votarão

Israel autoriza moradores a participar das eleições parlamentares do dia 25

JERUSALÉM – O ministro da Defesa de Israel, Shaul Mofaz, anunciou ontem que os palestinos que moram em Jerusalém Oriental poderão votar nas eleições para o Parlamento palestino, marcadas para o dia 25. O anúncio põe fim a semanas de suspense sobre a realização ou não das eleições, já que a Autoridade Palestina se recusava a promover o pleito sem a participação dos eleitores do lado árabe de Jerusalém, ocupado por Israel desde 1967.

A decisão era considerada pelos analistas o primeiro teste para o vice-primeiro-ministro interino, Ehud Olmert. Numa amostra das divisões internas no gabinete, o ministro das Relações Exteriores, Silvan Shalom, protestou contra a decisão. Shalom permanece no partido direitista Likud, do qual o primeiro-ministro Ariel Sharon saiu em novembro para formar um novo partido de centro, o Kadima. A cisão se deveu à decisão de Sharon de se retirar, em agosto, da Faixa de Gaza.

De acordo com Mofaz, os moradores de Jerusalém Oriental poderão votar nas seis agências do correio israelense nesse lado da cidade, ou em Abu Dis, um município contíguo a Jerusalém, mas que politicamente é considerado parte da Cisjordânia. O subterfúgio do correio – que caracteriza uma espécie de voto à distância, embora ele seja depositado em caixas que fazem as vezes de urna – foi usado na outra eleição para o Parlamento palestino, há dez anos, e na eleição presidencial do ano passado. Nas eleições municipais, realizadas também em 2005, os palestinos de Jerusalém Oriental não votaram.

O governo israelense já havia informado, na segunda-feira, que os candidatos palestinos poderiam fazer campanha em Jerusalém Oriental, desde que não pertencessem ao grupo extremista Hamas, não pregassem a destruição de Israel e obtivessem autorização da polícia.

Fontes do governo israelense vinham dizendo nos últimos dias que não dariam pretexto para a Autoridade Palestina postergar mais uma vez as eleições parlamentares. O mandato dos atuais 88 deputados palestinos (o novo Parlamento terá 132) expirou há cinco anos, mas o então presidente palestino, Yasser Arafat, morto em 2004, considerou que não havia condições para realizá-las, por causa da presença ostensiva de militares israelenses na Cisjordânia, em reação ao reinício da intifada, o levante palestino nos territórios ocupados. Agora, a situação é diferente: os israelenses controlam apenas os acessos à Cisjordânia e se retiraram por completo da Faixa de Gaza.

Em Jerusalém Oriental vivem 184 mil palestinos. Em comparação com a Cisjordânia, com 2,2 milhões, e a Faixa de Gaza, com 1,7 milhão, não é muito. Mas Jerusalém, que abriga o Domo da Rocha, de onde Maomé, segundo a tradição, ascendeu ao céu, e a mesquita de Al-Aqsa, a mais importante para os palestinos, tem um enorme peso simbólico. Os palestinos afirmam que a capital de um futuro Estado palestino deve ser em Jerusalém Oriental, enquanto os israelenses consideram a cidade “indivisível”.

O status final de Jerusalém foi um dos principais empecilhos à continuidade das negociações de paz, em 2000, entre Arafat e o então primeiro-ministro israelense, Ehud Barak. Diante do impasse, e da impaciência de israelenses e palestinos, Ariel Sharon, então líder da oposição, resolveu fazer um passeio pela Esplanada das Mesquitas, ou Monte do Templo, sagrado para os judeus. O passeio de Sharon desencadeou o reinício da intifada. No início do ano seguinte, Sharon derrotou Barak nas eleições, e é primeiro-ministro desde então.

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