Fatah elege um radical e OLP, um moderado

Abbas, novo chefe da OLP, é favorito na eleição para presidência da Autoridade Palestina

RAMALLAH – Poucas horas depois do anúncio da morte de Yasser Arafat, os dirigentes da Organização de Libertação da Palestina (OLP) se reuniram em Ramallah, na Cisjordânia, e elegeram, por unanimidade, Mahmud Abbas presidente da entidade. Abbas, de 69 anos, conhecido pelo nome de guerra Abu Mazen e considerado um moderado, era o secretário-geral e número 2 da OLP, dirigida por Arafat desde 1969. Com sua escolha rápida e sem hesitações, os dirigentes palestinos procuraram demonstrar unidade e estabilidade no interior dos territórios palestinos.

Como que para compensar essa guinada para a moderação e o pragmatismo, a Fatah, facção criada por Arafat em 1958, elegeu seu novo presidente Faruk Kadumi, até então responsável pelas relações exteriores da OLP, que discordou do processo de paz iniciado em 1993 – do qual Abbas foi um dos arquitetos – e continuou no exílio em Túnis, antiga sede da organização. Arafat também dirigia a Fatah e sua figura única e ambígua sintetizava as visões opostas de Abbas, visto com simpatia pelos EUA, e de Kadumi, considerado um radical. O primeiro-ministro da AP, Ahmed Korei, conhecido como Abu Alla, assumiu a chefia do Conselho Nacional de Segurança.

Arafat acumulava ainda um terceiro cargo, o de presidente da Autoridade Palestina (AP). Como prevê a Constituição, Rawhi Fattouh, presidente do Parlamento palestino, assumiu ontem o cargo. Político de pouca projeção, Fattouh terá como tarefa realizar eleições para um novo presidente dentro de 60 dias, como também estabelece a Constituição palestina. Abu Mazen é considerado o candidato favorito, embora não esteja certo ainda se será uma eleição direta ou por meio do Parlamento palestino.

O negociador-chefe palestino, Saeb Erekat, fez ontem um apelo para que Israel, os EUA, a Grã-Bretanha e outros países europeus ajudem os palestinos a realizarem eleições diretas. “A chave está na realização de eleições justas e livres”, disse Erekat. “A transição será suave e teremos estabilidade, transparência e prestação de contas. Não somos chefes tribais espalhados aqui e ali. Somos um povo que tem o direito de escolher sua liderança. Mas como vamos fazer uma eleição com tanques nos cercando? A resposta para essa questão está com Israel.” A única eleição direta para presidente nos territórios palestinos ocorreu em 1996, no início do estabelecimento do regime autônomo. Arafat teve quase 100% dos votos.

“É uma decisão para o gabinete, mas não vejo por que o governo não vá ajudar os palestinos a realizar eleições”, reagiu o ministro das Finanças de Israel, Binyamin Netanyahu, ex-primeiro-ministro e principal crítico do plano de retirada unilateral da Faixa de Gaza, conduzido pelo governo de Ariel Sharon. “O primeiro-ministro definirá a forma de ajudar, mas o mais importante é o que eles farão depois de eleitos”, acrescentou, frisando que só poderá haver negociações se o novo governo palestino começar a “desmantelar as organizações terroristas”.

“Ainda que a madre Teresa de Calcutá fosse presidente palestina, Martin Luther King fosse presidente do Parlamento, Nelson Mandela, primeiro-ministro, e Mahatma Ghandi, negociador-chefe, os israelenses dariam um jeito de abandonar o processo de paz culpando o terrorismo, e os americanos concordariam com eles”, ironizou Erekat.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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