Maioria dos palestinos não endossa a festa

Mas compreende a atitude dos que saíram às ruas para celebrar a dor dos americanos

JERUSALÉM – Entre as muitas imagens que chocaram o mundo na terça-feira, estava a de palestinos celebrando a dor vivida pelos americanos. A maioria dos palestinos em Jerusalém não endossa a atitude. Mas a compreende. “São pessoas desesperadas, cujos parentes foram mortos pelos judeus, com armas compradas com ajuda americana, e que responsabilizam os EUA por isso”, explica Mahadi Idkeedik, de 24 anos, que tem uma loja de souvenirs dentro da cidadela antiga de Jerusalém Oriental.

“Por que você só me pergunta sobre os americanos mortos, e não sobre os dez palestinos que morreram nos últimos dias em Jenin?”, indaga um jovem numa lanchonete, que prefere não se identificar. “Os Estados Unidos são controlados pelos judeus e por isso nos culpam por tudo o que acontece de ruim, mesmo depois de constatar que os pilotos foram treinados lá”, opina um senhor vestindo uma  túnica árabe.

“Eu estava aqui (em frente a uma das entradas da cidadela) quando eles festejaram, e disse a eles que isso não estava certo”, conta o motorista desempregado Said Hamdon, de 27 anos. “Israel talvez tenha feito isso para fechar os olhos do mundo para o que está acontecendo aqui, onde muitas pessoas foram mortas nos últimos dias”, suspeita Aeman Abu-Snana, que trabalhava limpando um hospital antes de ser demitido, em meio à severa recessão que se abateu sobre as economias palestina e israelense – da qual a primeira é totalmente dependente – com a retomada da intifada, a revolta palestina, há um ano.

A Autoridade Palestina não chegou ao ponto de lançar suspeitas sobre os israelenses, mas o ministro palestino da Cultura e da Informação, Yasser Abed Rabbo, disse ontem que Israel estava “escondendo-se por trás da poeira e da tragédia em Nova York e em Washington para continuar sua campanha de terrorismo de Estado contra civis inocentes e contra a liderança palestina”.

Pelo menos três palestinos foram mortos, incluindo um homem de 76 anos, e 25 ficaram feridos na noite de quarta-feira e na manhã de quinta, durante confrontos com o Exército israelense nas cidades de Jenin e Jericó e nas proximidades de Nablus e Ramallah, na Cisjordânia. Motoniveladoras escoltadas por tanques demoliram escritórios da administração palestina, que, segundo o Exército israelense, eram usados como bases para “atividades terroristas”.

Uma fonte do governo israelense citada pelo jornal Jerusalem Post confirmou que o ataque aos Estados Unidos tem dado a Israel maior liberdade para pressionar a Autoridade Palestina. “Estamos operando na área de Jenin e ninguém está reclamando”, festejou. “Somos contra o que fizeram nos EUA, e somos nós que estamos sofrendo as conseqüências”, constata o senhor de túnica cinza que não quis se identificar.

Em conversa com o secretário de Estado americano, Colin Powell, na noite de quarta-feira, o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, comparou o líder palestino Yasser Arafat ao terrorista saudita radicado no Afeganistão Osama bin Laden, suspeito de envolvimento no ataque de terça-feira aos EUA. Mesmo assim, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Shimon Peres, deve se reunir com Arafat no domingo, numa tentativa de retomar as negociações de paz, mergulhadas em impasse desde que Sharon assumiu o governo, em fevereiro.

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