Todos vão à Conferência de Madri, sem pensar em ceder

Mesmo assim, caminho da negociação parece ser sem volta

Ninguém falou em concessões territoriais. Os países árabes e Israel levaram cinco meses, desde o final da guerra do Golfo, para chegar a um acordo sobre questões de procedimento. Mesmo assim, os EUA e a URSS parecem alcançar seu objetivo: empurrar os países da região para um caminho sem volta, onde os dois lados têm enorme interesse em creditar qualquer fracasso ao adversário.

Na medida em que um cobre a aposta do outro, aumenta o comprometimento político de todos. A iniciativa de paz dos EUA, destinada a explorar ao máximo os dividendos da vitória sobre o Iraque, teve impulso no mês passado, quando o presidente sírio, Hafez Assad, aceitou a proposta da conferência. Deixou Israel sozinho como protagonista do impasse.

Era a vez do primeiro-ministro Yitzhak Shamir. Para não deixar dúvidas, na cúpula de Moscou Bush e Mikhail Gorbachev marcaram o mês da conferência: outubro. Não ficou claro se Shamir pensou rápido ou se tudo não passava de um plano traçado por Israel e por seu maior aliado, os EUA.

O fato é que Shamir conseguiu ao mesmo tempo aceitar a realização da conferência e manter a exigência de que os palestinos de Jerusalém Oriental e da OLP não compareçam a ela. A cartada final ficou com os palestinos, enfraquecidos pelo apoio da OLP ao famigerado regime iraquiano. Para manifestar boa vontade, terão de aceitar algo como um representante nascido em Jerusalém e com passaporte jordaniano – segundo o malabarismo sugerido por Israel.

A última vez que uma iniciativa de paz deu resultado no Oriente Médio foi em 1979, quando o Egito e Israel assinaram o Acordo de Camp David, mediado pelo então presidente americano, Jimmy Carter. Como agora, depois de uma guerra.

O acordo começou a ser costurado com o cessar-fogo da guerra de 1973, após a derrota imposta por Israel sobre a Síria e o Egito. Enquanto Hafez Assad se manteve irredutível, o presidente egípcio na época, Anuar Sadat, recuperou o Deserto do Sinai, perdido para Israel juntamente com a Faixa de Gaza na Guerra dos Seis Dias (1967). Israel, em troca, obteve pela primeira vez o reconhecimento de um país árabe.

A guerra do Golfo serviu para que a Síria – até então na lista negra dos EUA de financiadores do terrorismo internacional – se aproximasse do governo americano. De um só golpe, Assad se tornou parceiro estratégico dos EUA, isolou seu arqui-rival no mundo árabe, Saddam Hussein, e obteve com seus 40 mil soldados e sem grandes protestos do Ocidente controle total sobre o território do Libano. Quer de volta agora as Colinas do Golan, também tomadas por Israel em 67.

As chances de uma solução negociada, no entanto, são inversamente proporcionais à capacidade das partes de avançar desviando-se da questão crucial, a dos territórios. Pelo que se viu até agora, essa capacidade é grande.

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*