Atraso em apuração causa suspeita no Iraque

Opositores acham que venceram eleição mas Maliki não permitirá vitória

SAMARRA, Iraque – A Alta Comissão Eleitoral Independente adiou a divulgação, prevista para ontem, dos resultados parciais da contagem de votos das eleições parlamentares de domingo. A justificativa foi que a apuração não alcançou o mínimo de 30%. A demora prolonga o suspense e alimenta as suspeitas de fraude dos oposicionistas, que acreditam que venceram a eleição, mas não sabem se o governo do primeiro-ministro Nuri al-Maliki permitirá a sua vitória.

Os eleitores sunitas, que se concentram em Bagdá, no centro-norte e no oeste do país compareceram maciçamente às urnas e votaram na coalizão Al-Iraqiya, liderada pelo ex-primeiro-ministro xiita Ayad Allawi, que reúne 11 partidos xiitas, 10 sunitas e 1 turcomano, todos seculares. “Allawi venceu as eleições, mas isso não quer dizer que vá governar, porque não sabemos o que acontece nas salas fechadas onde contam os votos”, disse Yousif Abd Darraji, dono de uma construtora em Samarra, 125 km ao norte de Bagdá.

Muitos eleitores sunitas se queixaram de que, no dia da votação, seus nomes não estavam nas seções eleitorais e por isso não puderam votar. Eles dizem que não entendem como seus nomes podem constar de listas do governo, como a da cesta básica distribuída a todos os iraquianos – uma tradição da época de Saddam Hussein – e não nas das seções eleitorais.

A maior rigidez na identificação dos eleitores, aliada aos atentados do dia da eleição, que deixaram 38 mortos e mais de 100 feridos em Bagdá, é uma das explicações para o comparecimento menor do que nas primeiras eleições parlamentares, de dezembro de 2005 – respectivamente, 62% e 75%. Os eleitores de Allawi desconfiam que os atentados do domingo foram executados por grupos ligados a Maliki, para evitar que eles votassem.

As suspeitas sobre o processo eleitoral já foram lançadas antes das eleições. Na quinta-feira, a deputada Aliya Jassem, da Al-Iraqiya, previu que a aliança obteria mais de 100 das 325 cadeiras do Parlamento – que elegerá o primeiro-ministro e o presidente -, mas ressalvou várias vezes, ao longo da entrevista ao Estado: “Se interferirem nos resultados, veremos quantas cadeiras nos darão.”

Funcionários de diferentes coalizões ouvidas pelas agências de notícias reconheceram que Maliki tinha saído na frente na contagem. Representantes da aliança Estado de Direito, liderada pelo primeiro-ministro, afirmaram que ela estava ganhando em 9 das 18 províncias do país – em especial em Bagdá e no sul, onde se concentram os eleitores xiitas. Não há pesquisas de opinião abrangentes ou confiáveis no Iraque.

Tanto os partidários de Allawi quanto de Maliki admitem que nenhum bloco obterá maioria absoluta no Parlamento, e terá de ser formado governo de coalizão. Aparentemente, o fiel da balança será a Aliança Nacional Iraquiana, que reúne grupos xiitas radicais, que apoiavam o governo, até que Maliki rompeu com eles para construir um perfil mais secular na sua candidatura à reeleição. O primeiro-ministro tem como trunfo a diminuição da violência sectária a partir de 2008, mas é criticado porque não conseguiu debelar a corrupção, recuperar os serviços básicos, como eletricidade e água, e gerar empregos.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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