Iraquianos presos “não foram submetidos a humilhações e abusos”, compara porta-voz
AMÃ – A maneira como os prisioneiros de guerra americanos foram exibidos pela TV estatal iraquiana é uma “clara violação da Convenção de Genebra”. A opinião é do porta-voz do Escritório de Coordenação Humanitária da ONU no Iraque, David Windhurst. Segundo ele, o mesmo não se pode dizer dos prisioneiros de guerra iraquianos em mãos das tropas americanas e britânicas, mostrados pelas emissoras de TV.
A Convenção de Genebra Relativa ao Tratamento de Prisioneiros de Guerra, de 1949, da qual o Iraque é signatário, proíbe “ofensas contra a dignidade pessoal, em particular tratamento humilhante e degradante”. Também diz que os prisioneiros devem ser “protegidos contra atos de violência e intimidação e contra insultos e curiosidade pública”.
Windhurst acha que foi isso que a TV iraquiana fez ao entrevistar cinco militares americanos, dois deles feridos, num cômodo onde estavam estendidos os cadáveres de cinco colegas, fazendo closes de seus rostos e de seus corpos. O porta-voz da ONU ressaltou que, segundo a Convenção, os prisioneiros de guerra são obrigados “apenas a dar seu nome e sobrenome, patente, data de nascimento, Arma e regimento a que pertencem e número de identidade pessoal ou de série”.
O repórter da TV iraquiana fez, diante da câmera, perguntas do tipo “o que os soldados estavam fazendo no Iraque”, se tinham vindo para matar iraquianos, etc. Em contraste, as TVs ocidentais filmaram iraquianos se entregando a militares americanos e britânicos e campos de prisioneiros de guerra, sem entrevistá-los ou revelar seus nomes.
“Os iraquianos não foram entrevistados diante das câmeras nem submetidos a humilhações e abusos”, ponderou Windhurst, durante entrevista coletiva ontem em Amã. “A Convenção não proíbe filmar prisioneiros de guerra. Não existem dois pesos e duas medidas, no que tange à ONU”, reforçou o porta-voz da ONU em Amã, Nejib Friji, diante da insistência dos jornalistas em comparar as imagens da TV iraquiana, retransmitidas por várias emissoras ao redor do mundo, e as dos prisioneiros iraquianos ou dos afegãos na ilha de Guantánamo.
O vice-primeiro-ministro iraquiano, Tareq Aziz, disse ontem que o presidente Saddam Hussein deu ordens às tropas de tratar os prisioneiros de guerra de acordo com a Convenção de Genebra. “As TVs americanas mostraram prisioneiros iraquianos andando no deserto, como se fossem ovelhas, ou ajoelhados, com as mãos amarradas, enquanto a TV iraquiana mostrou americanos sentados em sofás”, comparou Aziz, em entrevista coletiva em Bagdá.
“Eles certamente estavam cansados e com alguns ferimentos, mas é assim que soldados ficam no campo de batalha”, afirmou Aziz. “Sabemos exatamente o que é a Convenção de Genebra.”
Já o ministro da Informação iraquiano, Mohamed Said al-Sahhaf, com seu costumeiro sarcasmo, pediu que os americanos “parem de chorar lágrimas de crocodilo” pelos prisioneiros de guerra. E perguntou se os ataques aliados a alvos civis, assim como a exibição de prisioneiros de guerra iraquianos na TV, também não configuravam violação das convenções internacionais.
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