Contagem parcial dá ampla vantagem ao presidente iraniano; Moussavi denuncia irregularidades e contesta resultado
TEERÃ – O presidente do Irã, o conservador Mahmud Ahmadinejad, foi reeleito ontem com folgada margem sobre o seu principal rival, o moderado Mir Hossein Moussavi. Apurados 77% dos votos, Ahmadinejad tinha 65% e Moussavi, 32%, segundo a Comissão Eleitoral, subordinada ao Ministério do Interior. Os 3% dos votos válidos restantes foram repartidos entre o reformista Mehdi Karroubi e o conservador Mohsen Rezai.
As autoridades, no entanto, não informaram de onde vinham esses votos, se do interior do país, reduto de Ahmadinejad, ou se das grandes cidades, onde Moussavi supostamente tinha sua base. Embora a contagem seja manual, os primeiros resultados começaram a ser anunciados apenas 20 minutos depois do fechamento das últimas urnas, à meia-noite em Teerã (16h30 em Brasília).
A mídia estatal chegou a anunciar a vitória de Ahmadinejad, que já se havia declarado reeleito logo após o fechamento das urnas. Mas Moussavi denunciou irregularidades e também se proclamou vencedor. O oposicionista queixou-se da falta de cédulas em seções eleitorais no norte de Teerã, reduto reformista, e do colapso do sistema de envio de mensagens pelo celular, que sua campanha utilizou amplamente, assim como a internet.
Um porta-voz do Ministério das Telecomunicações confirmou o problema à Associated Press, e disse que estava sendo investigado. Pelo menos três páginas na internet usadas pela campanha de Moussavi também foram tiradas do ar, sem explicação.
Na madrugada de hoje em Teerã, houve confrontos entre eleitores de Moussavi e a polícia. Para evitar tumultos, o Ministério do Interior proibiu aglomerações até o anúncio do resultado final, previsto para esta manhã.
A vitória de Ahmadinejad deve significar a manutenção da posição desafiante do Irã na condução do seu programa nuclear e da hostilidade em relação aos Estados Unidos e a Israel. Os comícios de Ahmadinejad foram marcados pelo tradicional slogan “Morte à América”, apesar dos movimentos do presidente Barack Obama em direção a negociações com o Irã.
Nos últimos dias, Ahmadinejad radicalizou, declarando guerra ao ex-presidente Ali Akbar HashemiRafsanjani, considerado pragmático, que liderou uma aliança de conservadores e reformistas contra sua candidatura. O presidente afirmou no seu comício de encerramento, na quarta-feira, que um de seus maiores erros foi “ter mantido gente dos governos anteriores”, que “prejudicaram” seu governo, e prometeu “tirar todo o poder dos corruptos”, numa referência a Rafsanjani e seus familiares e a outros aliados de Moussavi. A atitude representa uma ruptura do sistema de distribuição de poder entre as diversas correntes, que vigora desde a Revolução Islâmica de 1979.
Ahmadinejad, de 52 anos, reforçou sua popularidade nos últimos meses, distribuindo ajuda em dinheiro a 5,5 milhões de pobres, e empréstimos para moradias e melhorias em pequenas propriedades rurais. Ele também aumentou os salários dos funcionários públicos e as aposentadorias. A oposição o criticou pelo aumento da inflação, de 6,5%, no início de seu governo, para 14%, nos últimos 12 meses; e do desemprego, de 10,5% para 13%, segundo o índice oficial, ou 17%, de acordo com cálculos extra-oficiais. Já o presidente diz ter acelerado o crescimento econômico em seu governo, que atingiu a média de 6,25% nos últimos quatro anos, em comparação com 5,61% no mandato anterior do reformista Mohammad Khatami.
“A decisão forte, revolucionária e clara do povo trará um futuro brilhante para a nação”, disse Ahmadinejad, ao votar numa região pobre do sul de Teerã. “Agradeço a todas as pessoas pela presença verde que criou um milagre”, disse, por sua vez, Moussavi, de 67 anos, referindo-se à cor de sua campanha. Ele votou ao lado de sua mulher, Zaghra Rahnavard, ícone de sua campanha, que atraiu o voto sobretudo de mulheres ansiosas por mais liberdade e igualdade.
O líder espiritual, Ali Khamenei, anunciou que o voto era um dever religioso, e também uma forma de impedir as “conspirações dos inimigos”. Khamenei, que apoia tacitamente Ahmadinejad, conclamou a população a aceitar o resultado, qualquer que fosse.
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