Irã usa diplomacia regional contra pressão do Ocidente

Ministro da Defesa iraniano se reunirá com presidente do Azerbaijão antes de seu encontro com Bush

TEERà – O governo iraniano está mobilizado num esforço diplomático para evitar que os Estados Unidos e seus aliados ocidentais partam para as vias de fato para impedi-lo de levar adiante o seu programa nuclear. O ministro da Defesa iraniano, general Mustafa Mohamad Nadjar, anunciou ontem que vai se reunir em Baku com o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliev, antes de seu encontro com o presidente americano, George W. Bush, marcado para o dia 26.

Nadjar disse ontem em Teerã que a viagem do presidente azeri aos Estados Unidos “ajudará a baixar a tensão na região”. Para o ministro da Defesa, Aliev “pode informar o governo americano mais detalhadamente sobre a situação na região e sobre as atividades nucleares no Irã”. Nadjar se apressou a esclarecer que “isso não significa um pedido para reatar os laços entre o Irã e os Estados Unidos”. E arrematou: “Em seus 27 anos de existência, a República Islâmica do Irã nunca pediu isso.”

O Conselho de Segurança da ONU aprovou resolução no fim de março dando prazo de um mês para o Irã suspender o seu programa nuclear. O prazo expira no dia 28. Na terça-feira, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, anunciou que o país havia conseguido, pela primeira vez, enriquecer urânio em escala experimental, e reiterou a finalidade pacífica de seu programa nuclear. O anúncio irritou até a Rússia e a China, os membros permanentes do Conselho de Segurança mais simpáticos ao Irã.

O governo russo informou que vai aguardar a apresentação, no dia 28, de novo relatório do diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o egípcio Mohamad el-Baradei, para definir sua posição sobre o tema. Moscou se recusou, no entanto, a atender a um pedido dos Estados Unidos, para que abandonasse a construção do reator de Bushehr, no sudoeste do Irã. Os russos argumentam que o reator tem a finalidade apenas de gerar energia, e que o Conselho de Segurança ainda não tomou a decisão de proibir a cooperação com o Irã nessa área.

O reator começou a ser construído, com tecnologia alemã, ainda nos anos 70, no regime do deposto xá Reza Pahlevi. Depois da Revolução Islâmica de 1979, a então União Soviética assumiu o projeto, que até hoje não foi concluído.

Uma equipe chefiada por El-Baradei esteve no Irã na semana passada, em busca de respostas para dúvidas sobre o caráter exclusivamente pacífico do programa nuclear iraniano. El-Baradei deu a entender que a missão foi inconclusiva.

Uma delegação iraniana chefiada pelo subsecretário do Conselho de Segurança Nacional, Javad Vaidi, e pelo vice-ministro de Relações Exteriores, Abbas Araghchi, reuniu-se ontem em Moscou com diplomatas russos para discutir o resultado (ou a falta de) das conversações entre os representantes dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – Estados Unidos, Rússia, China, Inglaterra e França – e mais a Alemanha, nos últimos dois dias. Vaidi e Araighchi se reuniram na quarta-feira com enviados da Inglaterra, França e Alemanha. Aparentemente, não houve progresso palpável.

O governo iraniano insiste que seu programa nuclear tem como fim único gerar energia para a sua indústria. O país tem fraco potencial hidrelétrico e sua indústria é movida por energia termoelétrica, à base de petróleo. Ainda assim, o anunciado sucesso no enriquecimento de urânio encheu de orgulho os militares do país. “O êxito dos cientistas iranianos em todos os terrenos é a glória para todo iraniano, colocou o país entre os mais avançados do mundo”, disse o chefe do Estado-Maior do Exército iraniano, general Abdolrahim Mussavi.

Entre essas proezas, o militar enumerou “o míssil marítimo mais veloz do mundo, o barco voador (capaz de passar por cima até de uma ilha e seguir depois na água), manobras recentes com mísseis supermodernos, a notícia de que jovens cientistas iranianos alcançaram o ciclo completo da energia nuclear, a nanotecnologia e as células-tronco”. A imprensa oficial iraniana tem publicado análises segundo as quais, ao “ingressar no clube nuclear”, o Irã aumentou o seu “poder, projeção e influência sobre a região”.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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