Voluntários para atentados suicidas já são 55 mil

Alvos são países que ataquem muçulmanos, Israel e Salman Rushdie

TEERÃ – O Comitê de Promoção dos Mártires do Movimento Global Islâmico foi criado há dois anos e meio, em Teerã. De lá para cá, afirma ter recrutado 55 mil voluntários a se tornarem “shahid”, ou mártir, como é chamado, nos países muçulmanos, o autor de atentado suicida. Seus alvos são: todos os países que ataquem países muçulmanos; Israel; o escritor anglo-indiano Salman Rushdie, autor de Os Versos Satânicos, que lhe valeu uma condenação à morte pelo aiatolá Ruhollah Khomeini. De acordo com Mohsen Yazdi, membro do Conselho Central de Organização, a entidade não dá conta do número de pessoas que querem aderir, em todo o mundo.

As inscrições se intensificaram nos últimos dias, com a hipótese de os Estados Unidos atacarem o Irã, por causa de seu programa nuclear. “Estão sempre ligando e perguntando como fazem para inscrever-se”, conta Yazdi. O grupo tinha antes um site na internet, pelo qual era possível preencher o cadastro. “Os americanos o tiraram do ar”, diz o funcionário. “Mas estamos preparando um novo site.” Segundo Yazdi, há até mesmo judeus e cristãos entre os voluntários. Também querem ir ao paraíso? “É isso aí, e é perfeitamente racional”, responde ele.

E Yazdi, gostaria de ser shahid também? “Esse é o meu sonho”, responde o rapaz de 25 anos. “Tenho um desejo enorme. Não é morrer. Alá diz, no Alcorão: ‘Dê-me tua vida, e te dou algo muito melhor.'” E o que acham seus pais disso? Yazdi conta que, durante a guerra Irã-Iraque (1980-88), seu irmão mais velho foi lutar e voltou ferido, e seus pais aceitaram. “Meus pais gostam dessa minha fé.”

Yazdi explica que não há restrições de idade nem de sexo. Crianças e velhos também se inscrevem. Mas a maioria tem entre 18 e 30 anos. Ele diz que o Comitê não tem ligação com o governo, e que não tem muitos custos: “A imprensa, os canais de TV do mundo inteiro divulgam a nossa causa”, diz ele, com um sorriso. Cercado, em seu stand, de monitores de TV passando filmes de operações suicidas, Yazdi diz que não pode informar quantos de seus voluntários já se explodiram.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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