‘Se nos atacarem, resistiremos com todas as nossas forças’

Iranianos rejeitam comparações com invasões do Iraque e Afeganistão

TEERÃ – Terminada a oração, as palavras do aiatolá ecoam nas calçadas da Universidade de Teerã, epicentro da produção intelectual iraniana. “Estou totalmente de acordo: temos que nos voltar para Deus”, diz Hushang Nematifavah, um estudante de enfermagem de 26 anos. “Se nos atacarem, vão se arrepender, como aconteceu da outra vez”, lembra ele, referindo-se à invasão iraquiana, em 1980. “No Golfo Pérsico, ninguém terá poder como o Irã. Ainda que tenhamos problemas entre nós, quando nos querem dominar, nos unimos.”

“Se nos invadirem, resistiremos com toda a força”, concorda Modjtaba Bayat, integrante da Guarda Revolucionária. O repórter do Estado pondera para a pequena multidão que se formou a seu redor que os afegãos e os iraquianos também diziam isso antes do bombardeio americano. Nematifavah, que como muitos iranianos adora futebol, rebate: “Você está equiparando a seleção brasileira ao número 200 do ranking. Afeganistão e Iraque não se comparam ao Irã.”

“No início, talvez eles tenham sucesso, mas garanto que todos os iranianos, até os que estão contra a guerra, vão defender o Irã”, completa Modjtaba Zendedel, um policial militar de 25 anos. “Nos últimos anos da guerra (Irã-Iraque), nos bombardearam, nos ameaçaram até com armas biológicas, e não fomos embora, ficamos aqui”, orgulha-se Mohamad Bagari, de 59 anos.

Os iranianos não aceitam o argumento de que os Estados Unidos são uma coisa, o Iraque da guerra de 1980 e 1988, outra. “Naqueles oito anos de guerra, enfrentamos todas as potências – Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha -, que eram aliadas do Iraque”, lembra Bahram Moradi, de 40 anos, dono de uma loja de autopeças em Salehabad, uma pequena cidade 30 quilômetros ao sul de Teerã. “E ainda havia os curdos do norte, que cortavam a cabeça dos soldados iranianos. Não temos mais esses problemas internos. O Irã de hoje é muito mais forte que antes.”

“Em princípio, não creio que os americanos nos ataquem, porque faz 30 anos que dizem que vão nos atacar”, diz Moradi, um iraniano de etnia turca que lutou na guerra contra o Iraque, no corpo de infantaria do Exército. “Mas, se atacarem, não tenho medo algum.” O caminhoneiro Farhad Yusefi também não acredita num ataque: “Os EUA já têm problemas demais no Iraque e no mundo.”

Em qualquer caso, concordam todos, não há o que temer. “A morte é a glória, é uma honra para os iranianos. Vamos abraçá-la”, assegura Zendedel, o policial militar. “Vamos transformar isto num cemitério de americanos”, conclui, com uma frase antes usada por afegãos e iraquianos.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*