Presidente iraniano volta a defender, em Teerã, a extinção do regime israelense
TEERÃ – Três dias depois de provocar temores na comunidade internacional com o anúncio de que o Irã havia conseguido enriquecer urânio pela primeira vez, o presidente Mahmoud Ahmadinejad voltou a falar ontem sobre a destruição do Estado de Israel. “Gostem ou não, o regime sionista se dirige rumo à aniquilação”, disse Ahmadinejad, numa conferência internacional promovida em Teerã para angariar apoio aos palestinos sob a nova liderança do Hamas, afetada pelo corte da ajuda econômica dos Estados Unidos e da União Européia.
“O regime sionista é uma árvore apodrecida e ressecada, que será eliminada por uma tempestade”, insistiu Ahmadinejad. Falando a uma platéia de cerca de mil pessoas, incluindo representantes de 19 países, Ahmadinejad, que já causara polêmica em outubro ao dizer que Israel deveria ser “varrido do mapa”, disse acreditar que “a Palestina”, o que inclui o Estado israelense e os territórios por ele ocupado da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, “será liberada em breve”.
“A existência desse regime é uma ameaça permanente à região, e fere a dignidade das nações islâmicas”, argumentou o presidente, referindo-se ao “regime sionista”. Ahmadinejad, que põe em dúvida a ocorrência do Holocausto, declarou também: “Se esse desastre de fato ocorreu, por que o povo dessa região deveria pagar por ele? Por que a nação palestina tem de ser suprimida, e sua terra, ocupada?”
O presidente defendeu a eleição de um único governo em toda a “Palestina”, com a participação de toda a população: judeus, cristãos e muçulmanos, incluindo os refugiados palestinos, obrigados a deixar suas casas pela ocupação israelense.
Ahmadinejad vinculou o tema à reação da comunidade internacional à recente proeza iraniana do enriquecimento do urânio, declaradamente para fins pacíficos. “Os governos que preconizam a imposição pela força tentam impedir o nosso desenvolvimento tecnológico, porque interpretam cada aquisição como uma ameaça à sua dominação”, analisou o presidente. “O avanço de nossa tecnologia nuclear, que se deve à criatividade de nossos cientistas, é objeto de reprovação porque é capaz de fornecer a energia necessária para o nosso desenvolvimento.”
Com a conferência de ontem, o regime iraniano colocou o apoio ao Hamas, como partido governante da Autoridade Palestina, no centro de sua política externa. “Temos o direito e a capacidade de responder à humiliação das potências hegemônicas”, disse, em seu discurso de abertura da conferência, o líder supremo do Irã, aiatolá Seyed Ali Khamenei. “Não é exagero dizer que a Palestina é o símbolo e a bandeira dessa luta. Ela é a chave para o alívio da Ummah (população) islâmica.”
Num discurso intelectualmente sofisticado, repleto de alusões históricas mescladas com trechos do Alcorão, Khamenei disse que o fervor religioso, representado pelo Hamas, na Palestina, e pelo Hezbollah, no Líbano (ambos patrocinados pelo Irã), estão tendo êxito naquilo em que outras ideologias sucumbiram.
“Os produtos teóricos e práticos do nacionalismo, do marxismo e de outros que tais não passam nos testes”, disse ele, numa referência implícita ao pan-arabismo dos anos 50 a 70 e às correntes laicas que formaram a Organização de Libertação da Palestina (OLP). “A fé religiosa, fortemente abraçada pelo povo, gradualmente cria brechas de luz no horizonte estreito e cinzento, com a coragem de combatentes pacientes e firmes.”
Assim, na visão do líder espiritual iraniano, aquilo que o Ocidente encara como o terrorismo islâmico, os atentados suicidas do Hamas e do Hezbollah, são a redenção não só para os palestinos, como para os muçulmanos, na luta contra a “dominação” de potências como os EUA de hoje e a Inglaterra do passado colonial. “Até agora, o sangue de grandes mártires como o xeque Ahmed Yassin, (Abdel Aziz) Rantisi (ambos líderes do Hamas mortos por Israel em 2004) e Fathi Shiqaqi (do Hezbollah, morto em 1995), dos jovens buscando o martírio e das vítimas da opressão tem triunfado sobre a espada e, com o poder de Deus, será cada vez mais vitorioso.”
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