Ex-diretor da Cetesb foi sócio de Mantovani

JAGUARIÚNA– Em 1977, Valdemar Mantovani, então com 37 anos e o primário completo, era sócio em um caminhão de transporte de combustível, quando lhe propuseram remover borra oleosa para a Vasoil, subsidiária da Refinaria Manguinhos que fazia o re-refino do óleo usado. 

A firma lhe adiantou o dinheiro para comprar um caminhão e o Sítio Pirapitingüí, de 25 hectares.

Mantovani obteve a autorização 005/1977 da Cetesb para depositar os resíduos no sítio, a céu aberto. “Não havia nenhum aterro no Brasil. Jogavam resíduos nos rios”, recorda ele. “A Cetesb passou a recomendar às empresas, por escrito, que contratassem meu aterro.” 

Tudo corria bem até que, em 1981, notificação assinada pelo então superintendente de Resíduos Sólidos da Cetesb, José Francisco Furquim de Campos, advertiu que o aterro tinha sido autorizado a receber borra ácida e Terra Füller (argila usada em transformadores), não outros resíduos líquidos que estava recebendo. 

“Queriam criar dificuldades para vender facilidades”, analisa Mantovani. Furquim veio visitá-lo em seu escritório em Jaguariúna (134 quilômetros ao norte de São Paulo), onde hoje ele mora, aos 66 anos. Furquim, já falecido, explicou que podia obter na Cetesb a licença para um aterro industrial, de acordo com as novas normas, mais rigorosas. E lhe propôs uma sociedade. “Aceitei na hora”, conta Mantovani. 

Nascia a Central Técnica de Tratamento e Disposição de Resíduos Industriais Ltda. (Cetrin). “Fluíram as facilidades”, narra o empresário. “Veio tudo o que você pensar.” Fernando Golias, até então fiscal da Cetesb, veio trabalhar no aterro. Com a garantia de não ter problemas com a Cetesb, 62 empresas – incluindo gigantes como Petrobrás (por meio da contratada Ibrasol), Johnson & Johnson, Rhodia, Basf, Cargill e Texaco – passaram a enviar seus resíduos para o aterro. 

Em 1985, um dos poços de monitoramento do solo acusou a primeira contaminação. Os resíduos tóxicos começavam a vazar dos tambores e valas para alastrar-se pelo lençol freático. Furquim apresentou a solução: Mantovani devia criar, sozinho, nova pessoa jurídica. No ano seguinte, surgiu o Aterro Industrial Mantovani. “Era para pôr a culpa só em mim”, interpreta o empresário. “Estou aqui pagando o pato.” Em 1987, a Cetesb interditou o aterro. A partir daí, Mantovani conta que investiu R$ 100 mil em obras para impedir o alastramento da contaminação no subsolo. 

Num terreno ao lado, dentro do sítio, Mantovani abriu a Rebrasoil, dedicada ao re-refino de óleo. Em 2001, a usina foi interditada pela Cetesb, sob acusação de que o resíduo do re-refino estava sendo enterrado no sítio. Mantovani garante que todo o resíduo era mandado para a Estre, empresa de tratamento de resíduos de Paulínia, da qual guarda até hoje os manifestos de carga. Condenado a multa de R$ 90 milhões, Mantovani, alvo de 44 ações, ficou com os seus sete bens indisponíveis. Na ação criminal, ele foi absolvido em maio de 2004. 

 

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*