Sarkozy reitera compromisso de flexibilizar jornada de trabalho e facilitar financiamento imobiliário
PARIS – O presidente eleito da França, Nicolas Sarkozy, que tomará posse no dia 16, confirmou ontem as medidas prioritárias de seu governo, anunciadas durante a campanha: flexibilização da jornada de trabalho semanal de 35 para 39 horas, com isenção de impostos para as horas suplementares; redução dos juros sobre empréstimos para a compra da casa própria; isenção de encargos sobre o trabalho dos estudantes; fim da progressão de penas para reincidentes; e obrigação de manter os serviços nos horários de pico durante greves no transporte público.
A informação foi dada por Xavier Bertrand, integrante da equipe do presidente eleito. Sarkozy, de 52 anos, ex-ministro do Interior no atual governo, venceu a candidata socialista por 53% a 47% no segundo turno presidencial. Depois da festa da vitória, que reuniu 30 mil pessoas na Praça da Concórdia na noite de domingo, ele se recolheu para descansar nos próximos dias em local não revelado – provavelmente em Malta, especulava-se ontem em Paris. O retiro servirá também para compor os nomes de seu gabinete. Três ou quatro dias depois de sua posse, Sarkozy nomeará o novo primeiro-ministro – ao que tudo indica, seu conselheiro de campanha, o senador François Fillon (veja box) – , e 15 ministros.
Sarkozy obteve 18,33 milhões de votos e Ségolène, 16,05 milhões. A sua porcentagem foi a maior obtida por um candidato presidencial gaullista sobre um adversário de esquerda desde a vitória de Charles de Gaulle sobre François Mitterrand em 1965 (55% a 45%). O comparecimento, de 84%, foi um dos mais elevados da história; 4% votaram branco ou nulo.
De acordo com sondagem do instituto TNS Sofres, Sarkozy foi eleito majoritariamente por pessoas com mais de 50 anos, moradores da zona rural, sem diploma universitário e de renda mais baixa (leia quadro).
No primeiro turno, dia 22, Sarkozy obtivera 31,18% dos votos válidos e Ségolène, 25,87%. Sondagem feita no domingo pelo instituto Ipsos revela que, apesar de seus esforços, Ségolène não foi capaz de canalizar votos do candidato centrista François Bayrou, terceiro colocado no primeiro turno, com 18,57%. Desses eleitores, 40% votaram em Sarkozy, 38% em Ségolène, 15% se abstiveram e 7% votaram nulo. Já os eleitores do líder de extrema direita Jean-Marie Le Pen (quarto colocado no primeiro turno, com 10,44%) debandaram maciçamente para Sarkozy no segundo: 63% votaram no candidato da União por um Movimento Popular, 12% na socialista, 5% nulo ou branco. Só 20% seguiram a orientação de Le Pen, de abster-se no segundo turno.
As diversas correntes do Partido Socialista mergulharam num embate, depois da terceira derrota consecutiva numa disputa presidencial. De um lado, o ex-primeiro-ministro Laurent Fabius, à esquerda do partido, julga que ele deve retomar sua linha ideológica original: ‘A bandeira socialista está no chão.’ No outro extremo do espectro, o ex-ministro da Economia Dominique Strauss-Kahn diz que o partido irá ‘de derrota em derrota se não se modernizar’.
No meio, está precisamente o companheiro de Ségolène – embora não necessariamente de suas idéias -, François Hollande, primeiro-secretário do partido, e situado à esquerda dela no espectro. ‘Minha responsabilidade é de conduzir todo mundo nessa batalha, e renovar tanto quanto possível a esquerda, refundá-la, uni-la, ampliá-la, abri-la, enfim colocá-la na perspectiva de 2012’, disse ele, referindo-se à próxima eleição presidencial. Na noite de domingo, Hollande havia criticado a companheira, dizendo que ela ‘não falou muito de propostas concretas’.
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