Maioria dos moradores da bem cuidada Neuilly-sur- Seine diz que votará no ex-prefeito no segundo turno
NEUILLY-SUR-SEINE, França – Em fevereiro de 1848, Neuilly-sur-Seine foi o cenário da 2ª Revolução Francesa, quando seu castelo foi saqueado e incendiado pelos insurgentes, que depuseram o rei Luís Felipe I. Hoje, a rica cidade de 30 mil habitantes não lembra em nada aqueles tempos turbulentos. Na tarde de primavera, os moradores se refestelam ao sol, observando os filhos brincar na praça da prefeitura que Nicolas Sarkozy ocupou por quase duas décadas (entre 1983 e 2002).
Nessa cidade bem cuidada e elegante colada no noroeste de Paris, onde nasceram os atores Gérard Depardieu e Jean Reno, e o ex-ministro da Economia Dominique Strauss-Kahn (que disputou com Ségolène Royal a candidatura socialista à presidência), Sarkozy recebeu 72,64% dos votos no primeiro turno – mais do dobro de sua média nacional, de 31,18%. Aqui, é difícil encontrar alguém que não vá votar em seu ex-prefeito no segundo turno.
‘Votei por Sarkozy porque tenho a esperança de que ele vai arrumar este país’, disse a economista Aurélia Renault, 35 anos, que trabalha numa empresa de exportação. ‘Acho que o pessoal de Ségolène não exprime o estado de espírito francês, não arregaça as mangas e trabalha. Precisamos nos livrar desse Estado pesado, desses impostos altos, dessa dívida enorme, se não, os franceses vão todos embora da França’, arrematou Aurélia, que morou nos Estados Unidos.
‘Voto em Sarkozy pela mudança’, explicou, ao seu lado, Laurence, de 31 anos, formada em comércio, e dona de uma pequena empresa de assessoria. Mas Sarkozy não pertence ao governo atual? ‘Sim, mas, para fazer as coisas evoluírem, não podemos nos enganar’, respondeu Laurence, que não quis dar seu sobrenome. E Ségolène Royal? ‘Ela não é adequada a esse cargo.’
Entre os eleitores de Sarkozy, é freqüente a imagem da necessidade de um ‘homem que faz’, e que vai colocar o país nos eixos. ‘É preciso consertar a França no plano econômico e social’, disse um policial de 24 anos, que se identificou apenas como Christophe. ‘(O presidente Jacques) Chirac não cumpriu o que se propôs a fazer. Mas acho que Sarkozy pode cumprir.’
Esse é um outro aspecto: as eventuais decepções com Chirac e com seu governo não dissuadem os eleitores de Sarkozy. ‘Gostaria de um presidente que não viajasse tanto quanto Chirac. Viajar é normal, mas Chirac nunca está conosco. Sarkozy diz que ficará aqui’, disse Chantal Claudet, aposentada de 71 anos, que foi empregada numa confecção.
‘Aqui, todos votamos em Sarkozy’, afirmou ela, lembrando que o direitista foi um bom prefeito. ‘Nada vai mudar’, ponderou Chantal. ‘Não importa quem estiver no poder, os ricos serão sempre ricos. O importante é a moradia e os hospitais, abrigo para as pessoas de idade. Sempre temos esperança.’
A questão é se ele terá os meios para fazer o que prometeu’, interrompeu seu marido, Gérard Cacheaux, desenhista industrial aposentado, de 65 anos. ‘Observo que todos, seja de direita, esquerda ou centro, prometem tudo. Quando sobem ao poder…’, continuou Chantal, e Gérard concluiu: ‘Não fazem nem metade do que prometeram.’
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