Governo e oposição prometem ‘resposta firme e unitária’ a atentado contra ex-vereador socialista no País Basco
MADRI – A dois dias das eleições gerais na Espanha, o grupo separatista Pátria Basca e Liberdade (ETA) trouxe o terrorismo de volta ao centro do debate político, matando o ex-vereador socialista Isaías Carrasco em Mondragón, no País Basco. O primeiro-ministro socialista, José Luis Rodríguez Zapatero, e o líder da oposição, Mariano Rajoy, do direitista Partido Popular (PP), uniram-se para condenar o atentado, numa reunião de todas as forças políticas no Congresso.
Depois de uma conversa por telefone entre Zapatero e Rajoy, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e o PP cancelaram os seus comícios de encerramento de campanha, previstos para ontem em Madri e noutras cidades. Após a reunião, foi divulgado um comunicado, assinado por todas as bancadas parlamentares e pelos sindicatos dos trabalhadores e patronal, no qual eles se dizem “dispostos a responder a essa agressão de forma firme e unitária, através da força exclusiva do Estado de Direito”.
A união, no entanto, não durou muito. O secretário de Justiça e Liberdades Públicas do PP, Ignacio Astarloa, lamentou que o comunicado não incluísse um compromisso de não negociar com a ETA e a revogação de uma resolução de maio de 2005, que autoriza o governo a dialogar com o grupo desde que ele não esteja cometendo atos violentos. Durante a campanha, Rajoy criticou duramente Zapatero por ter aberto um canal de negociação com a ETA. “Vamos derrotar a ETA e os assassinos de Isaías vão acabar muito em breve na cadeia”, declarou ontem o líder da oposição.
Há quatro anos, as eleições gerais também foram realizadas sob a sombra de um atentado terrorista. No dia 11 de março de 2004, três dias antes do pleito, quatro bombas colocadas em trens na periferia de Madri mataram 192 pessoas. O governo do PP, que liderava as pesquisas, atribuiu o atentado à ETA. Praticamente no dia da eleição, no entanto, ficou claro que se tratava da Al-Qaeda. O então primeiro-ministro José Maria Aznar foi acusado de manipulação para tentar prejudicar o PSOE, mais propenso ao diálogo com a ETA, e saiu derrotado. Desta vez, as pesquisas indicam vitória do PSOE por 5 pontos de vantagem sobre o PP.
“Quiseram interferir hoje na pacífica manifestação da vontade dos cidadãos convocados às urnas”, disse ontem Zapatero, em pronunciamento no Palácio de La Moncloa. Segundo ele, a ETA “já está vencida com a democracia, repudiada e isolada pelo conjunto dos espanhóis e da sociedade basca”. Zapatero prometeu “perseguir com todos os instrumentos do Estado de Direito, os terroristas, os que lhes prestam apoio e os que apóiam e justificam suas ações”.
O grupo separatista clandestino Batasuna, considerado o braço político da ETA, advertiu que o atentado “é uma amostra do recrudescimento político e armado”. O comunicado afirma: “O Batasuna seguirá trabalhando até que se respeitem os direitos de todos os cidadãos bascos, porque esse é o único caminho para ir às raízes do conflito.”
Carrasco, de 42 anos, que trabalhava numa praça de pedágio, estava entrando no carro para ir para o serviço, quando foi atingido por pelo menos cinco tiros. O autor dos disparos vestia um terno preto e trazia uma barba postiça e o rosto descoberto. Ele e um comparsa fugiram de carro. Carrasco não se reelegeu vereador nas eleições municipais do ano passado, e recusava escolta.
Segundo o diretor do Colégio de Politólogos e Sociólogos de Madri, Lorenzo Navarrete, o atentado pode estimular o comparecimento dos eleitores nas urnas amanhã. As pesquisas indicam que um maior comparecimento favoreceria os socialistas. O PP tem um eleitorado mais inelástico, na casa dos 10 milhões de eleitores (de um total de 35 milhões), e os eleitores de centro, que tendem a se abster, prefeririam o PSOE, explica José Pablo Ferrándiz, diretor do instituto de pesquisas Metroscopia.
Para Navarrete, isso não está claro. “Pode ser um maior comparecimento para todas as opções”, disse ele ao Estado. O analista pondera, no entanto, que o atentado pode também “aumentar a identificação com a vítima”, no caso o PSOE, ao qual Carrasco pertencia.
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