Zapatero descarta regularização de estrangeiro ilegal

Pressionado pela oposição, primeiro-ministro socialista promete rigor à véspera da eleição

MADRI  – Às vésperas das eleições gerais na Espanha, o primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero, pressionado pela oposição espanhola e pela União Européia para conter a imigração, prometeu ontem repatriar os imigrantes ilegais e descartou a possibilidade de uma nova regularização em massa, como a que fez em 2005. É mais um sinal do recrudescimento da política de imigração espanhola, em meio à crescente deportação de brasileiros e de outros estrangeiros.

Em entrevista publicada ontem pelo jornal El País, Zapatero disse que há cerca de 250 mil imigrantes ilegais na Espanha. Desses, entre 25 mil e 30 mil são brasileiros, segundo estimativas. À pergunta sobre o que pensa fazer com eles, o primeiro-ministro, candidato à reeleição, respondeu: “Na medida em que possamos, repatriar. Quando temos um imigrante ilegal, o repatriamos.”

Segundo dados do Ministério do Interior, no governo Zapatero, entre 2004 e 2007, foram repatriados 370.027 estrangeiros. Isso representa um aumento de 43,4% em relação ao período de 2000 a 2003, quando o governo do Partido Popular, de direita, repatriou 258.049 pessoas.

Zapatero justificou a regularização extraordinária de 700 mil ilegais feita por seu governo em 2005, lembrando que ela foi precedida de acordo entre sindicatos e entidades empresariais, e condicionada a contrato de trabalho e a ficha criminal limpa. Mas, sobre se repetiria o feito, o primeiro-ministro foi categórico: “Evidentemente, descarto.” Segundo ele, é preciso “fortalecer os fluxos legais”, com acordos com governos estrangeiros e empresas espanholas instaladas noutros países, e ajudar os países pobres, para que os jovens de lá encontrem razões para ficar onde estão.

A Espanha tem “acordos de contratação na origem” com a Colômbia, o Equador, a República Dominicana, Marrocos, Romênia, Polônia, Bulgária e Mauritânia. Segundo a agência France Presse, 200 mil estrangeiros obtiveram permissão de residência na Espanha em 2007 e outros 180 mil em 2006, graças a esses contratos na origem. Zapatero afirma também ter investido 800 milhões de euros em serviços sociais para imigrantes nesses quatro anos de governo.

Na segunda-feira, durante o último debate antes da eleição de amanhã, o líder da oposição de direita, Mariano Rajoy, do Partido Popular, atacou Zapatero: “O senhor não se dá conta, mas a imigração é uma questão séria para os espanhóis. Os estrangeiros têm direitos, mas os espanhóis também têm. O problema é que a imigração tem sido desordenada.”

O número de imigrantes quintuplicou nos últimos sete anos, para 10% da população, ou 4,5 milhões de pessoas. No governo Zapatero, entraram na Espanha 2 milhões de imigrantes. É exatamente o número de desempregados no país, e o número de vagas que o primeiro-ministro prometeu gerar nos próximos quatro anos. O desemprego está em 8,6%. Mas ele é mais alto entre os imigrantes (12,37%) que entre os espanhóis (7,95%), segundo dados do Ministério do Trabalho.

Zapatero ponderou, no entanto, que metade do crescimento econômico da Espanha nos últimos anos – média anual de 4% – deveu-se ao trabalho dos imigrantes. Ele disse também que as contribuições dos imigrantes cobrem os benefícios pagos a 1 milhão de aposentados e pensionistas espanhóis. Mas, no momento em que a economia sofre desaquecimento, e o desemprego está em alta, a corda tende a romper do lado mais fraco.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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