Para analistas, conservador, que está cinco pontos atrás de Zapatero nas pesquisas, não apresentou novas propostas
MADRI – O líder da oposição de direita da Espanha, Mariano Rajoy, pode ter selado a sua derrota nas eleições gerais de domingo, com seu desempenho no debate na noite de segunda-feira. Até ele notou. Candidato a primeiro-ministro pelo Partido Popular, Rajoy admitiu ontem que “não deveria ter debatido tanto tempo” a guerra do Iraque e o atentado de 11 de março de 2004 em Madri, cometido pela Al-Qaeda.
Enquanto Rajoy insistia no tema “terrorismo”, desembocando nesses assuntos desfavoráveis ao PP, o primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero, candidato à reeleição pelo Partido Socialista (PSOE), apresentava propostas e abordava questões que interessam mais aos eleitores.
O resultado foi que Zapatero, segundo três pesquisas diferentes, saiu-se melhor no debate por uma margem entre 15 e 20 pontos porcentuais (53% a 38%, 50,8% a 29,0% e 49,2% a 29,8). Numa disputa em que as pesquisas de intenção de votos davam uma diferença de apenas cinco pontos entre os dois principais candidatos – em favor de Zapatero -, um bom desempenho nesse último debate era considerado crucial para Rajoy.
O líder direitista, no entanto, não deu a impressão de ter assimilado a lição por completo: “Deveria ter dedicado mais tempo à luta contra a ETA (Pátria Basca e Liberdade)”, concluiu ontem, referindo-se às suas acusações, bastante reiteradas no debate, de que Zapatero “enganou a ele como líder da oposição e mentiu aos espanhóis” ao negociar com o grupo separatista basco.
Foi justamente a insistência de Rajoy nesse tema que permitiu a Zapatero lembrar que o governo do PP, sob José María Aznar, enviou tropas ao Iraque em 2003 na esperança de que os Estados Unidos retribuíssem ajudando a Espanha a combater o terrorismo. Em vez de obter, com isso, o fim dos ataques da ETA, atraiu a fúria da Al-Qaeda, que executou o maior atentado da história da Espanha, com a série de bombas nos trens na periferia de Madri. Zapatero prensou Rajoy na parede, perguntando se ele continuava apoiando a guerra no Iraque. O líder do PP não respondeu.
A discussão trouxe à tona uma das principais causas da derrota do PP nas últimas eleições gerais, em 2004: a atitude do governo de inicialmente responsabilizar a ETA pelo atentado, na esperança de arrancar votos do PSOE, que tende ao diálogo com os separatistas. O oportunismo foi fatal para o PP, que liderava as pesquisas até então.
Na última pesquisa de intenção de votos divulgada pelo instituto Opina no fim de semana, o PSOE vencia com 43,5%, seguido pelo PP, com 38,0%, e pela Esquerda Unida, com 5,0%. A lei não permite mais a divulgação de resultados, mas o Opina continua fazendo pesquisas diárias, chamadas de tracking. “E Rajoy vem caindo dia-a-dia”, revelou ao Estado a diretora do Opina, Josefina Elías.
“Todos sabiam que os candidatos deviam concentrar-se em propostas e no futuro, depois que o debate anterior (dia 25) ficou muito focado no passado”, disse Fernando López, diretor-geral do Metroscopia, que faz pesquisas de opinião para o jornal El País. “Zapatero apresentou mais propostas, falou mais do futuro, foi mais concreto.” Nas contas de Fernando Caballero, do Colégio Profissional de Politólogos e Sociólogos, Zapatero apresentou 30 propostas; Rajoy, 10.
“Os temas que interessam ao PP não são os temas importantes para os cidadãos”, observou Caballero, para quem o candidato de oposição poderia ter explorado a queda do poder aquisitivo e a carestia, por exemplo. Segundo as pesquisas do Metroscopia, a maior preocupação dos espanhóis é a alta dos preços da moradia. Rajoy tocou no assunto, afirmando que ela foi de 43% no governo do PSOE (2004-2007). Foi de 34,8%. A propósito, no último governo do PP, entre 2000 e 2003, o aumento foi maior: 49,5%.
Pior: o líder do PP ficou insistindo que Zapatero é mentiroso, sem conseguir prová-lo. No entanto, foi pego numa mentira. No afã de provar que o governo “não tem política econômica”, afirmou que a primeira questão que colocou a Zapatero no Parlamento como líder da oposição, em maio de 2004, foi sobre a economia. O primeiro-ministro o desmentiu, puxando pela memória. Ontem, os jornais espanhóis mostraram que a pergunta de Rajoy foi um genérico: “Como o senhor avalia os primeiros dias de seu governo?”
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