Comerciantes, estudantes e sindicalistas pedem renúncia de presidente
QUITO — As regiões centrais de Quito e de Guayaquil, as duas principais cidades do Equador, ficaram semiparalisadas ontem de manhã, por manifestações de comerciantes, estudantes e sindicalistas contra a dolarização da economia e exigindo a renúncia do presidente Jamil Mahuad. Grupos de índios também começaram a chegar à capital. Trechos de algumas estradas importantes em todo o país foram bloqueados por agricultores. Por volta do meio-dia, hora local (15 horas em Brasília), a polícia e o Exército já haviam dissolvido as multidões nas cidades e desbloqueado as estradas.
Várias marchas, cada uma com algumas centenas de pessoas, saíram de vários pontos de Quito durante a manhã, em direção ao centro histórico da cidade. O objetivo era aproximar-se do palácio do governo. Mas os calçadões que circundam o palácio estavam bloqueados pela polícia, que usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os vários grupos que chegavam. A única marcha que conseguiu percorrer o centro histórico foi a dos comerciantes e vendedores ambulantes, que iam passando e obrigando lojistas e camelôs a baixar as portas ou desmontar as barracas, sob pena de “confiscar” a mercadoria.
“Se o povo não tem poder aquisitivo, não temos razão de existir”, disse Edmundo Nárvaez, um dos líderes da marcha. Os comerciantes afirmam que os atacadistas aumentaram os preços em até 100% na última semana, que se seguiu ao decreto de dolarização no dia 9, e alegam que os fregueses não têm condições de comprar os produtos. Por isso, exigem que o governo volte atrás na decisão de dolarizar a economia. No centro de Guayaquil, a maior cidade do país, os comerciantes também realizaram uma marcha.
Os petroleiros anunciaram a paralisação, a partir de ontem, dos centros de distribuição de combustíveis. Wilson Pástor, presidente da Petroecuador, disse que a estatal tinha um plano de contingência, pelo qual empregados da área comercial operariam as instalações de carregamento de caminhões-tanque. Ainda de acordo com Pástor, há gasolina armazenada para abastecer Quito por 12 dias e Guayaquil, por 11.
Um trecho no norte e outro no sul da Rodovia Panamericana, que cruza o país, assim como um ponto da Rodovia Guayaquil-Río Bamba, que liga a Região Costeira à Serrana, foram bloqueados por agricultores que se queixam dos aumentos dos preços das ferramentas, adubo e sementes.
Sem equipamentos adequados, soldados do Exército levaram horas para retirar os montes de terra, troncos de árvore e pneus incendiados colocados pelos manifestantes nessas e noutras estradas menores. Grupos de índios começaram a chegar a Quito em caminhões, por estradas vicinais, já que as principais rodovias de acesso à capital estão vigiadas pelo Exército. O Sindicato dos Petroleiros e a Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) reuniram-se à tarde para coordenar manifestações conjuntas a partir de hoje.
Mais dois dirigentes sindicais foram detidos ontem pela polícia, sob acusação de incitação à “insurgência”. Com base no estado de emergência que vigora no país, a polícia já havia invadido casas e detido três outros líderes sindicais. Ontem, as centrais sindicais, organizações estudantis e o partido de esquerda Movimento Popular Democrático entraram com pedidos de habeas-corpus para os 5 sindicalistas e outros 33 jovens, detidos na sexta-feira.