Fayetteville, na Carolina do Norte, é aonde se pode chegar mais perto da guerra nos Estados Unidos. Aqui, em vez de automóveis, os caminhões-cegonha cruzam a cidade transportando Humvees, os jipes usados pelo Exército americano.
FAYETTEVILLE – Pelo pequeno aeroporto de Fayetteville, classificado em alerta laranja (o segundo nível mais elevado) contra ataques terroristas, transitam militares de todas as Forças, indo ou voltando de missões no Iraque e no Afeganistão. A cidade de 210 mil habitantes abriga o Fort Bragg, a maior base militar do país, com 65 mil soldados. Com o compromisso de não revelar seus nomes, já que eles não podem falar de política, o Estado colheu as opiniões dos veteranos e dos que estão partindo para a guerra.
“Acho que o país precisa de mudança”, diz um sargento do Exército de 43 anos, usando a palavra-chave da campanha de Obama, como ele negro e de Chicago. “Por razões domésticas, não por causa da guerra no Iraque”, explica o sargento, de partida para o Afeganistão.
Outro sargento negro de 33 anos, que está voltando do Iraque, onde um amigo foi morto, também votará em Obama. O sargento, que vive na Carolina do Sul, acredita que Obama seja “mais sensível” à situação das famílias dos militares mortos em combate, Elas recebem indenizações que vão de US$ 400 mil a US$ 500 mil, mas isso não é suficiente, acredita ele. “Eu me preocupo que o filho de um ano do meu amigo possa ir para uma universidade boa”, diz ele. “Este país precisa de mudança, investir mais em educação, ter um sistema de saúde decente e ajudar os sem-teto”, enumera o sargento. “Acho que cada candidato pertence a uma geração. Obama pertence à minha.”
De acordo com a Coalizão de Contagem de Baixas do Iraque, 4.188 militares americanos foram mortos no Iraque. Até agora, 1,6 milhão de militares serviram no Iraque e no Afeganistão, dos quais 540 mil por mais de uma vez.
Preocupações semelhantes podem levar a conclusões diferentes. “Vou votar em McCain porque ele foi militar, apóia-nos e entende melhor a situação em que estamos”, diz um soldado do Exército de 20 anos, que será enviado no ano que vem, não sabe se para o Iraque ou para o Afeganistão. “Obama é uma pessoa boa, fala muito bem”, pondera o soldado, um texano de origem latina. “Se nas próximas eleições ele for candidato e não estivermos mais em guerra, votarei nele.”
“A maioria dos militares apóia McCain”, assegura um comandante da Marinha, de partida para o Afeganistão. “Ele é veterano do Vietnã, herói de guerra e, além disso, os militares em geral são conservadores.” O comandante não partilha da idéia de que a guerra do Iraque foi desnecessária.
“Estamos orgulhosos de nossas realizações no Iraque”, diz o militar branco, enquanto olha uma foto da filha de quatro anos e do filho de três, em seu notebook. “A situação está muito melhor agora.” De qualquer forma, acrescenta o militar, “seguimos nosso comandante-em-chefe, seja ele Bush, Obama ou McCain”.
Com um aparelho ortopédico no joelho direito, ferido no Iraque, um sargento branco do Tennessee de 31 anos brinca com sua filha de 3 num shopping center de Fayetteville. “Ainda não pude fazer uma pesquisa e não sei a respeito de outras áreas”, admite o sargento. “Mas levo em conta o fato de que McCain é ex-militar.”
Nem todos os militares priorizam esse aspecto. “Para mim, o importante é encontrar alguém que seja capaz de arrumar a economia”, diz um sargento de 27 anos, de origem latina, casado com uma filha de quatro anos. “Ainda não sei qual dos dois é capaz. Eles me parecem muito próximos”, continuou o militar. “Se Hillary Clinton fosse candidata, definitivamente eu votaria nela.”
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