Ex-secretário do ministro Palocci, acusado de negociar propina de R$ 6 milhões, usa endereço frio
RIBEIRÃO PRETO – O vice-presidente executivo do Grupo Leão Leão, Rogério Tadeu Buratti, suspeito de negociar uma propina de R$ 6 milhões para intermediar a renovação do contrato da companhia americana Gtech com a Caixa Econômica Federal, tem uma empresa registrada em endereço frio. ma empresa com endereço frio na transação. De acordo com o cadastro da BBS Consultores Associados Ltda na Receita Federal e na Junta Comercial, a empresa tem como proprietários Buratti e sua mulher, Elza, e funciona numa casa de um conjunto habitacional em Jardinópolis, a 20 quilômetros de Ribeirão Preto.
Na casa, mora a filha de Lourdes Périco Dias, de 52 anos, que trabalha como copeira na Leão e Leão. Lourdes conta que foi João Francisco Cândido, gerente de controladoria da empresa, quem lhe pediu para usar o endereço no registro da empresa. Ele explicou a Lourdes que precisava abrir uma firma com endereço em Jardinópolis. Pagava um salário mínimo por ano à copeira, que ganha R$ 560 por mês na Leão e Leão. Em média uma vez por mês chegava correspondência,que Lourdes entregava a João Francisco.
O marido de Lourdes, Antonio Joaquim Filho, 53 anos, já trabalhou como pedreiro na Leão e Leão e hoje, como autônomo, ganha cerca de R$ 200 por mês. O casal ficou surpreso ao saber do uso que estava sendo dado ao endereço. “Estou achando uma covardia ele estar fazendo isso comigo”, diz Lourdes. “Nunca pensei que isso fosse me acontecer.” Há dois anos, quando foi registrar a firma, Lourdes perguntou à funcionária do cartório se isso não lhe causaria problemas. Ela respondeu que não haveria problemas, e que “muita gente faz isso”.
O Estado tentou falar com Buratti, mas não conseguiu localizá-lo. Sua mulher, Elza, confirmou que é sócia dele na BBS, mas disse que não daria mais declarações. Segundo ela, Buratti não estava em casa. A assessoria de imprensa da Leão Leão afirmou que tentaria localizá-lo, e adiantou que era improvável que ele se pronunciasse.
Segundo depoimento de dois executivos da Gtech à PF na semana passada, o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz lhes teria dito que a renovação do contrato com a Caixa Econômica Federal, de R$ 650 milhões, dependia do pagamento de propina a um intermediário. Buratti, em seguida, se apresentaria como sendo o intermediário. Mas, segundo os executivos, a multinacional americana se teria recusado a pagar a propina, e obteve a renovação do contrato assim mesmo. Buratti admite ter se reunido, no início do ano passado, com os executivos da Gtech, mas garante que não recebeu propina.
Denúncia – No primeiro mandato de prefeito de Ribeirão Preto do atual ministro da Fazenda, Antônio Palocci, Buratti foi secretário de Governo entre 1993 e 1994, quando teve de deixar o cargo, depois de vir a público uma gravação na qual ele acertava detalhes de licenças para empreendimentos na cidade com dois representantes da construtora Almeida & Filhos. As gravações tinham sido feitas pelo próprio Buratti, em seu gabinete na prefeitura, de onde a fita teria sido furtada. O Ministério Público entendeu que a prova tinha sido obtida de forma ilícita e ele escapou de um processo.
Buratti foi trabalhar imediatamente na Leão Leão, grande prestadora de serviços e contratista da Prefeitura de Ribeirão Preto. Diante da revelação feita pelos executivos da Gtech sobre a suposta tentativa de intermediação de Buratti, Palocci garantiu que não tinha tido mais contatos com seu antigo auxiliar.
Na manhã de sábado, um dia depois do depoimento dos executivos da Gtech, o chefe de gabinete de Palocci, Juscelino Dourado, esteve na casa de Buratti, segundo a TV Record. Dourado nega que tenha estado lá.