Foi o hoje ministro que no fim de 2000 convenceu um relutante Lula a conhecer Alencar
BRASÍLIA – No final de 2000, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais fez uma festa para comemorar os 50 anos de vida empresarial do então senador José Alencar. No meio político, o critério foi convidar os presidentes nacionais de todos os partidos, assim como os de Minas. A moça que preparava a lista chegou com uma dúvida: “O PT tem dois presidentes, o José Dirceu e o de honra, o Lula.” A solução, lembra Alencar, foi mineira: “Convide os dois.”
Em São Paulo, o convite foi recebido com certa preguiça. “Vai você”, pediu Lula a Dirceu. “Acho importante você conhecer o Alencar”, rebateu Dirceu. Lula acabou aceitando a sugestão. A empatia foi imediata. Nascia ali a “aliança capital-trabalho” que ampliaria a confiabilidade da candidatura Lula e romperia sua seqüência de três derrotas eleitorais. “O melhor que me aconteceu nesta campanha foi esse mineiro aqui”, diria mais tarde Lula, apontando para Alencar.
Mas o que o teria encantado tanto? “Meu discurso, naquela noite, não teve nada de político”, recorda Alencar, com sua proverbial modéstia. “Contei minha história. Discurso de sofrimento sempre impressiona o Lula. Ele é muito sensível ao sofrimento das pessoas.” Lula não ficou para o coquetel.
Mas, dias depois, surgiria um convite para jantar com Dirceu, Nilmário Miranda, então candidato do PT ao governo de Minas, e Patrus Ananias, então candidato a deputado, hoje ministro do Desenvolvimento Social. O jantar foi na suíte presidencial de um hotel de Alencar, o Wembley Palace, em Belo Horizonte.
“A gente falava a mesma linguagem, toda vida fui empresário voltado para os interesses nacionais, embora só tenha ingressado na política em 1993, para disputar no ano seguinte o governo de Minas pelo PMDB”, diz Alencar. O senador, na época vice-presidente do PMDB mineiro, já tinha sido sondado para ser vice de outros dois candidatos presidenciais: Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS). Mas se inclinou para Lula, para o espanto de muitos colegas dos meios empresarial e político.
Lula conserva o apreço pessoal por Alencar, apesar de seus ataques à política econômica, e o convida regularmente ao gabinete, para ouvir suas opiniões. O vice se mostra à vontade no governo petista. “Todos têm espaço para dar opinião”, encanta-se. “Dá gosto ver como eles trabalham.”