‘Oposição é para falar mal dos outros’, diz Lula

Presidente volta a se explicar, na África, pelas acusações feitas a governos anteriores

MAPUTO, Moçambique – Depois de ter, na semana passada, chamado seus antecessores de covardes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem um discurso conciliador. Ele prometeu não se queixar das críticas da oposição – até porque o seu partido, o PT, é o primeiro a criticar o presidente – e pediu, em contrapartida, para não ser julgado por esses dez meses de mandato.

“A coisa que mais me desafiava a ser governo era ver se eu seria capaz de fazer aquilo que eu tanto reclamava que os outros não faziam”, lembrou o presidente, numa conferência sobre políticas sociais em Maputo, capital moçambicana. “Passei a vida inteira dizendo que os presidentes deviam fazer isso e aquilo. Pois bem, eu ganhei. Agora eu não vou reclamar de ninguém. Porque ninguém pediu para eu ser candidato. Eu é que quis.” Em seguida, o presidente disse uma frase ambígua: “Teimei, cheguei lá e agora o meu papel é fazer tudo aquilo que eu passei 30 anos criticando nos outros.”

Falando a uma platéia de 300 intelectuais, empresários e políticos, Lula prometeu que não vai reclamar dos opositores. “A oposição é para isso mesmo: falar mal dos outros”, disse ele, arrancando risadas. “E como sou de um partido fantástico, que quando tem que fazer crítica é meu partido mesmo que faz, não precisa nem da oposição.”

Lula contou que, sempre que ia se queixar com o ex-presidente da Câmara Ulysses Guimarães do comportamento dos partidos governistas, o deputado do PMDB lhe explicava: “A oposição reinvidica, faz discurso, xinga; a situação vota.” O presidente concluiu: “Nós construímos essa maioria para votar. Então, acho que está tudo certo.”

Respondendo à pergunta de uma parlamentar da oposição sobre como eram as relações entre seu governo e os oposicionistas, Lula classificou-as de “boas” e “cordiais”, comentando que na comitiva que trouxe nessa viagem por cinco países da África não havia só deputados de oposição: o grupo inclui o deputado negro Reginaldo Germano (PFL-BA). “De vez em quando, tem ofensa para cá, ofensa para lá, mas isso também faz parte do jogo político”, descreveu o presidente.

Lula também pediu paciência: “Não me julguem por dez meses e dez dias”, disse ele, aparentemente referindo-se a críticas como as que tem feito o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “Tenho quatro anos de mandato.”

Noutra amostra de moderação, o presidente evitou criticar o Judiciário, diante de uma pergunta sobre como fazer para que os pobres tivessem acesso à Justiça. “Está cheio de imprensa brasileira aqui. Não vou falar da Justiça”, desconversou. “Houve uma polêmica muito séria no Brasil sobre reforma do Poder Judiciário e, como acho que um poder tem de respeitar o outro, porque a harmonia entre eles é que garante o exercício da democracia, o que tenho para falar da Justiça, prefiro falar no Brasil.”

O presidente aproveitou para fazer uma espécie de desagravo dos ministros sobre os quais têm pairado especulações de demissão, e que o acompanham nessa viagem. Ao longo da palestra de 55 minutos sobre políticas sociais, ele foi encaixando elogios e referências aos ministros da Assistência Social, Benedita da Silva (que chamou de “negona bonita”), de Segurança Alimentar, José Graziano Silva, dos Esportes, Agnelo Queiroz, e da Educação, Cristovam Buarque.

A palestra foi para os moçambicanos. Os recados, para os brasileiros. 

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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