A longa viagem de volta à origem

Ao lado da intuição, Lula conta com um rico conhecimento da realidade do País, pelo qual tem viajado intensamente desde sua primeira campanha, em 1989.


Quem se orgulha de haver despertado o líder petista para a importância dessas viagens é o geógrafo Aziz Ab’Sáber, talvez o mais importante do País, aos 78 anos.

O pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP sugeriu a Lula naquele ano que visitasse sua terra natal, Vargem Comprida, no município pernambucano de Caetés. O então candidato resistiu em princípio, temendo que a visita fosse interpretada como demagogia, mas no fim concordou. Foi a primeira de uma série de “expedições” pelo Norte e Nordeste.

Numa delas, a caravana de Lula chegou a um ramal de estrada que ia dar em Águas Belas, no sertão de Alagoas. O nome do lugarejo se deve a pequenos córregos antes perenes, que hoje em dia não sobrevivem à seca. Uma dúzia e meia de sertanejos, com cáctus nas mãos, os aguardava. “Lula, queremos falar com você”, anunciou uma senhora, sentada num monte de areia. “A única coisa que temos para comer são esses cáctus.” Tiravam os espinhos, ferviam e faziam um caldo sem gosto – e provavelmente sem nutrientes.

“Ontem, fomos ao gabinete do prefeito pedir pão, mas ele não nos recebeu”, contou a mulher. Lula virou-se para o senador Eduardo Suplicy, que o acompanhava, e pediu que fosse falar com o prefeito. Suplicy saiu caminhando pela estradinha. Entrou no gabinete do prefeito, cujas portas se abriram prontamente, e fez um acordo: juntos, comprariam 300 pães, cada um pagando metade da despesa.

Num acampamento, encontraram um grupo de lavradores que comiam raposas – depois de tirar a glândula que causa mau cheiro. Noutro lugar, comiam iguanas. “Foram os primeiros contatos do Lula com os problemas do sertão”, relata Ab’Sáber. Claro, como adulto, depois de haver deixado Vargem Comprida, aos sete anos de idade, no pau-de-arara para Santos. Lula começava uma longa viagem de volta à sua origem. 


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