Evolução visível também na forma de se expressar

Talvez a melhor demonstração da capacidade de Lula de aprender de ouvido sejam os progressos notáveis em seu português.


A cada campanha presidencial, foi-se percebendo a melhora de Lula tanto em sua capacidade de se expressar quanto na qualidade gramatical de seu linguajar.

Rapaz tímido, Lula conta que, na primeira vez em que teve que ler em público um texto – escrito pelo advogado do sindicato -, no início dos anos 70, “tremia feito vara verde”. Hoje, já lê bem. “Ele leu perfeitamente o discurso do dia 28 de outubro, que tinha uma linguagem inlectualizada”, observa Eduardo Martins, autor do Manual de Redação e Estilo do Estado. “Não cometeu nenhum erro de pronúncia.” Antes de começar a ler, no entanto, Lula deu um escorregão quase comum: “Fazem 24 anos…”

Ao falar de improviso, ele transmite confiança e intimidade, sendo capaz de prender a atenção de um público por mais de uma hora, alternando o discurso político com anedotas e histórias de vida. “Ele é muito desembaraçado, tem uma rapidez de raciocínio que não é comum em homens públicos”, elogia Martins.

No National Press Club de Washington, no dia 10, Lula foi metralhado de perguntas dos jornalistas americanos. Respondeu com desenvoltura e até bom humor. Chegou a arrancar risadas e palmas, ao responder a uma pergunta sobre como lidar com o regime ditatorial e comunista da China: “Eu não sabia muito sobre a China até que os Estados Unidos a transformaram em parceira comercial preferencial. Pensei comigo: o que é bom para os americanos, deve ser bom para os brasileiros.”

Do ponto de vista gramatical, Lula deixou de cometer muitos erros e abandonou vícios como a locução “de que”, que na campanha de 1989 colocava depois de quase todo verbo. Mas ainda engole o “s” ou o “m” do plural ao fim de algumas palavras,o que leva a erros de concordância, como “os meus amigo” ou “as restrições orçamentárias importa”.

Lula preserva jargões do discurso sindicalista e de esquerda, como “a classe trabalhadora” e “as camadas oprimidas”. Mas tem bom repertório de palavras, na avaliação de Martins. Não é um Fernando Henrique Cardoso, que usa conceitos sofisticados, mas está muito acima de Paulo Maluf, que ofende os ouvidos mais sensíveis. “Ele está na média dos políticos brasileiros, ou talvez até um pouco acima”, diz o autor do Manual de Redação do Estado. 


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