General Montoya procura afastar versão de que houve acordo para resgate de reféns
BOGOTÁ – O comandante do Exército colombiano, Mario Montoya, procurou afastar ontem a versão de que o resgate dos 15 reféns na selva do Guaviare, no centro-sul do país, tenha sido resultado de um acordo com os guerrilheiros. “De maneira alguma houve qualquer tipo de colaboração”, disse Montoya aos jornalistas, antes de expor os seus “troféus”: Gerardo Aguilar, conhecido como “César”, comandante da Frente Primeira das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), encarregado da vigilância dos reféns, e o seu número 2, Enrique Gafas. Ambos foram capturados durante o resgate.
Um militar aproximou um microfone da boca de César, e depois de Gafas, enquanto os jornalistas perguntavam se estavam arrependidos. César, com o olho direito roxo e hematomas espalhados pelo rosto, permaneceu em silêncio. Gafas também não respondeu nada. Em seu emocionado relato da noite de quarta-feira, a ex-senadora Ingrid Betancourt disse que César humilhava e maltratava os reféns.
Os dois estão em poder do Ministério Público. “Esses bandidos estão descartados para a Lei de Justiça e Paz”, rejeitou Montoya, referindo-se ao programa de anistia e reinserção social oferecido pelo governo colombiano a guerrilheiros e paramilitares que depõem armas. Montoya defendeu a extradição deles para os EUA – que já a solicitaram – por envolvimento com narcotráfico e pelo seqüestro dos três americanos contratados pelo Departamento de Defesa. Os rumores sobre uma negociação com os guerrilheiros foram nutridos pela incredulidade diante da forma insólita com que o serviço de inteligência do Exército diz ter enganado os experimentados comandantes.
“Foram os 22 minutos e 13 segundos mais longos da minha vida”, declarou Montoya sobre a operação de resgate, denominada Xeque (em referência ao lance de ataque ao rei no xadrez). “Se tivesse falhado, eu teria tido que renunciar”, admitiu o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos. De acordo com o ministro e os comandantes militares, a operação começou a tomar forma em maio do ano passado, quando o policial Jhon Frank Pinchao fugiu do acampamento à beira do Rio Apaporis. Pinchao forneceu valiosas e inéditas informações sobre a localização, táticas e rotinas da guerrilha.
Em fevereiro, pela primeira vez os militares viram os três reféns americanos e dois colombianos, na margem do Rio Inírida, mas evitaram uma ação pelos riscos que envolvia. Segundo Montoya, agentes da inteligência do Exército conseguiram se infiltrar no “Secretariado”, como é chamada a liderança das Farc. Foram ajudados pela falta de comunicação entre os comandantes das Farc, que evitam contatos com medo de serem rastreados pelo sistema de sensoriamento usado pelos militares colombianos, com apoio dos americanos – sobretudo depois do bombardeio ao acampamento do número 2 das Farc, Raúl Reyes, morto em março.
Os agentes teriam convencido César de que uma organização não-governamental internacional enviaria helicópteros para transportar os reféns, primeiro para lhes prestar assistência, depois para levá-los até o acampamento de Alfonso Cano, o novo comandante das Farc. César concordou em reunir os 15 reféns, que estavam em acampamentos distantes uns dos outros.
Às 13h13 de quarta-feira, um dos dois helicópteros de fabricação russa do Exército, pintados de branco, pousou perto do acampamento, com dois pilotos e quatro militares vestidos com coletes da ONG fictícia. César e Gafas aceitaram embarcar junto com os reféns. Os agentes pediram que ambos entregassem suas pistolas, argumentando que aquela era uma “missão internacional”.
Depois de decolar, deixando cerca de 60 guerrilheiros no solo, os militares renderam os dois comandantes e disseram aos reféns a agora famosa frase: “Somos do Exército Nacional. Vocês estão livres.”