Pesquisa aponta eleição de Uribe no 1.º turno

Segundo a sondagem, candidato independente tem 51% das intenções de voto

 

BOGOTÁ — Pesquisa de intenção de voto divulgada ontem pelo Centro Nacional de Consultoria prevê a eleição do candidato independente Alvaro Uribe já no primeiro turno, no domingo. A sondagem dá a Uribe 51% das intenções de voto, seguido pelo candidato do Partido Liberal, Horacio Serpa, com 26%. A pesquisa confirma o crescimento da candidatura do sindicalista Luis Eduardo Garzón, com 11%. A independente Noemí Sanín aparece com 7%.

Com esse resultado, a eleição ou não de Uribe já no primeiro turno — que requer metade dos votos mais um — continua dentro da margem de erro, como aconteceu com a sondagem do Instituto Napoleón Franco, divulgada domingo, que atribuiu 49,3% ao liberal dissidente de linha dura. As simulações prevêem vitória de Uribe também no segundo turno, de modo que a dúvida, na Colômbia, não é quem será o próximo presidente, mas se haverá nova rodada dia 16 de junho.

As restrições para estacionar os carros nas ruas de Bogotá, a presença um pouco mais ostensiva da polícia e do Exército e os chatíssimos programas eleitorais gratuitos, nos quais os nanicos têm o mesmo tempo que os candidatos relevantes, são os únicos sinais fora da rotina. A campanha eleitoral deste ano está inteiramente esvaziada pela falta de verdadeira disputa e pelas precauções em face das intimidações e sabotagens dos grupos armados.

A dois dias do primeiro turno presidencial, a frieza desta campanha contrasta fortemente com a eleição de 1998, quando o liberal Horacio Serpa, em segundo lugar nas pesquisas, ameaçava o primeiro colocado, o conservador Andrés Pastrana, e a independente Noemí Sanín, um fenômeno apelidado de La Niña, também tinha chances de passar para o segundo turno. As entrevistas coletivas de Pastrana e Serpa se realizavam em grandes auditórios lotados de jornalistas. Este ano, Uribe não deu coletiva e Serpa não reuniu mais de 20 meios de comunicação em seu comitê, na quarta-feira.

Não há cartazes nem panfletagem nas ruas. Uribe, alvo de atentado em abril em Barranquilla (norte do país), no qual morreu seu motorista, tem os movimentos fortemente restringidos. No edifício de quatro andares em que instalou seu comitê central de campanha, o detector de metais é seguido por duas revistas feitas pelos policiais, no térreo e no andar da imprensa. Ao lado do prédio, há um posto de gasolina no qual os guerrilheiros juraram colocar um carro-bomba.

A polícia impede o estacionamento na frente dos comitês e de inúmeros edifícios públicos, hotéis, restaurantes, etc., acrescentando um pouco mais de transtorno ao normalmente caótico trânsito de Bogotá.

Na madrugada de ontem, um petardo lançado de um táxi danificou a fachada do comitê de Uribe em Medellín, seu reduto político. Guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) confiscaram cédulas e listas eleitorais em sete municípios. Em 40 localidades, o governo transferiu seções eleitorais para as sedes municipais, por razão de segurança.

Em menos de 48 horas, caminhões-bomba explodiram em quatro pontes. Ontem, quatro rebeldes das Farc morreram quando outro caminhão-bomba explodiu antes do previsto perto de Bogotá.

Para completar o quadro de ansiedade, o chefe da missão da Organização dos Estados Americanos, Santiago Murray, ao traçar um panorama do que os seus 50 observadores já viram e ouviram em uma semana de trabalho na Colômbia, fez um apelo aos candidatos para que evitem converter-se em “alvos”.

O jornal El Tiempo noticiou ontem que a advertência levou Uribe e o candidato de esquerda Luis Eduardo Garzón a cancelarem compromissos. O comando da campanha de Uribe desmentiu ao Estado a informação. Já o de Garzón confirmou.

Ao completar ontem três meses o seqüestro da senadora e candidata Ingrid Betancourt, sua mãe, Yolanda Pulecio, exortou as Farc a libertá-la, lembrando que sua filha luta “por uma nova Colômbia”. O marido de Ingrid, Juan Carlos Lecomple, segue fazendo campanha para ela.

 

A violência não é algo novo para os colombianos e, quatro anos atrás, a guerrilha também decretou “greve armada” contra as eleições. Naquela época, no entanto, os três principais candidatos defendiam negociações com a guerrilha, que, por sua vez, ainda não tinha trazido o terrorismo para as grandes cidades. Hoje, as eleições significam outra coisa: depois do fracasso do processo de paz, o favorito Uribe fala em guerra; Serpa e Noemí reconhecem que não há clima para negociações; Garzón é o único que coloca ênfase nelas, atraindo o ódio de outro grupo armado: os paramilitares.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*