Presidente ressalta que Exército ‘está preparado para a paz, mas também para a guerra’
BOGOTÁ – O presidente Andrés Pastrana abriu o segundo ano de legislatura do Congresso ontem, Dia da Independência da Colômbia, com um recado para a guerrilha: “Temos um Exército preparado para a paz, mas também para a guerra.” E completou: “Por isso, estamos modernizando as Forças Armadas, para fazer frente a seus desafios.”
O presidente anunciou ter ordenado que seu representante nas negociações de paz, Victor G. Ricardo, tente restabelecer as conversações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), suspensas diante da recusa da guerrilha em aceitar a instalação de uma comissão internacional de verificação na “zona de distensão” por ela controlada. “A paciência do governo e dos colombianos tem limite”, advertiu o presidente.
Em meio a um rigoroso ajuste fiscal, o governo colombiano preparou um orçamento para o ano que vem em que a única rubrica que receberá aumento de recursos é a da Defesa, em mais um sinal evidente de endurecimento em relação ao conflito armado. Os gastos públicos cairão de US$ 45 bilhões, este ano, para US$ 40 bilhões. O déficit público deverá ser reduzido dos atuais 5%, para 2,5%, no ano que vem. O ajuste fiscal planejado pelo governo já motivou o endosso, por parte do FMI, de um crédito de US$ 3 bilhões à Colômbia.
O subsecretário de Estado para a América Latina, Peter Romero, anunciou que os EUA vão treinar milhares de soldados colombianos para o combate ao narcotráfico, até mesmo nas zonas guerrilheiras. O governo americano também deve somar US$ 250 milhões de ajuda militar anual à Colômbia, além dos US$ 256 milhões atuais.
Nas comemorações dos 189 anos da independência, na Praça de Bolívar, em Bogotá, Pastrana condecorou 20 militares que se destacaram na contra-ofensiva à guerrilha na semana passada, incluindo, postumamente, um capitão, que morreu ontem de manhã. Na parada militar desfilaram apenas cadetes da Academia Militar de Bogotá, enquanto os membros das três Forças Armadas e da Polícia Nacional se mantinham de prontidão máxima em todo o país.
Cerca de 20 mil policiais e militares patrulhavam as ruas de Bogotá. Desde o fim de semana, estiveram suspensos todos os portes de arma, com exceção dos agentes de segurança. Os carros devem andar de luzes internas acesas à noite.
Como todos os dias na Colômbia, foram registradas ontem ações armadas da guerrilha e dos chamados paramilitares. O ataque mais significativo das Farc ocorreu no Departamento de Bolívar, onde os guerrilheiros emboscaram um comboio de fuzileiros navais, com minas instaladas na estrada e cilindros de gás. Um fuzileiro morreu e 22 ficaram feridos.
Ainda ontem, surgiu a primeira explicação oficial para o abandono, pelas Farc, do perímetro urbano na “zona de distensão” de 42 mil quilômetros desocupada pelo Exército e controlada pela guerrilha. De acordo com o prefeito Ómar García, de San Vicente del Caguán, um dos cinco municípios da área, os guerrilheiros se encerraram na selva por causa de sobrevôos da Força Aérea na região. Mas continuam patrulhando as ruas e estradas, “à paisana”.
As Farc se retiraram ostensivamente dos perímetros urbanos na noite de sábado, em seguida ao cancelamento da reunião de lançamento das negociações, marcada para segunda-feira.