Assembléia criou e extinguiu CPI em 48 horas

No dia seguinte, R$ 3,4 milhões apareceram em contas de cinco empresas fantasmas

 

LONDRINA – Conforme mostrou a imprensa na época, o governador Jaime Lerner empenhou-se pessoalmente para que a Assembléia Legislativa do Paraná não investigasse a compra de 45% das ações da Sercomtel pela Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel) e o pagamento de dívida de R$ 47 milhões ao Banco Fonte Cindam. Apesar da resistência do governador, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi instalada, no dia 24 de maio.

Dois dias depois, no entanto, os deputados a extinguiram. No dia seguinte, foram depositados R$ 3,4 milhões nas contas de quatro empresas fantasmas de Curitiba e uma de Londrina, conforme comprovantes em poder do Ministério Público. “Foi o preço pago aos deputados pela autodissolução da CPI”, atesta Eduardo Alonso de Oliveira.

Procurado pelo Estado, Lerner encarregou seu secretário da Segurança Pública, Cândido Martins de Oliveira, de prestar esclarecimentos. O secretário diz ter presenciado, na época, reunião do governador com o presidente da Assembléia Legislativa, Aníbal Khury, na qual Lerner teria dito que a CPI era problema dos deputados e não iria interferir. Em declarações publicadas pela Folha de Londrina à saída de reunião com os deputados governistas para dissuadi-los de criar a CPI, no entanto, o governador argumentou que ela poderia prejudicar a privatização da Copel, prevista para início do ano que vem.

Redes de comunicação – O presidente da Copel, Ingo Henrique Hubert, disse que a compra das ações da Sercomtel permitiu à companhia estadual de energia conectar suas redes de comunicação corporativa ao mundo exterior, por meio da empresa de telefonia. Hoje, a unidade de negócios Copel Telecomunicações mantém essas redes em 41 empresas, para comunicação interna e externa. “Fomos a primeira empresa de eletricidade com licença para operar um sistema limitado de telecomunicações”, orgulha-se Hubert. “A compra das ações da Sercomtel serviu para impulsionar nosso novo negócio.”

O negócio entre a Sercomtel e a Copel foi precedido de conflito entre o prefeito de Londrina, Antônio Belinati, e o governador Jaime Lerner. Belinati recebeu apoio de Lerner na candidatura à prefeitura, em 1996. Mas, logo que assumiu, lançou o movimento Pé Vermelho, com o qual passou a fustigar o governador. Sua mulher, a vice-governadora Emília Belinati, também começou a criticar Lerner.

O fim do conflito coincidiu com a compra das ações da Sercomtel pela Copel, em maio de 1998, no início da corrida eleitoral para o governo do Paraná. Belinati, que se mantinha no PDT, do qual Lerner saíra para se candidatar à reeleição, juntou-se ao governador no PFL. Seu filho, Antônio Carlos Belinati, deixou o cargo de diretor financeiro-administrativo da Comurb, no qual tinha sido posto pelo pai, e candidatou-se a deputado estadual pelo PSB. Fez dobradinha com os deputados federais José Janene (PPB) e Alex Canziani (então no PTB, hoje no PSDB) e apoiou Lerner.

Cândido, que foi coordenador político da campanha de Lerner, garante que Antônio Carlos e Canziani “nunca ajudaram financeiramente a campanha” e Janene “foi candidato independente”. Janene confirmou que não apoiou Lerner: “Bati duro nele durante a campanha.” Cândido acrescenta que Lerner “nunca trata dos recursos de suas campanhas e tem postura ética inatacável.” Janene nega que tenha sido beneficiado por esquema de desvio de recursos públicos e até mesmo que tenha feito dobradinha com Antônio Carlos.

Por meio de sua Assessoria de Imprensa, Canziani enviou a seguinte nota ao Estado: “Não sabia dos problemas que apareceram e acho tudo isso uma vergonha.” A nota prossegue: “Esse sujeito (Eduardo Alonso) não foi indicado por mim.” E conclui, numa referência implícita a Janene, que indicou Alonso para a diretoria da Comurb: “Ele fazia parte de outro grupo político que predominou nos órgãos públicos envolvidos nas denúncias.”


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