Cristovam avalia que está atrás de Roriz porque faltou mais propaganda de suas realizações
BRASÍLIA — Candidatos petistas, provenientes da universidade e dos sindicatos, enfrentam grandes empresários, reunidos no PMDB e no PFL. A classe média vota no PT e os pobres, nos candidatos tachados de populistas.
O PT queixa-se da atuação do tribunal eleitoral e de grandes grupos econômicos. Brasília é mais que um microcosmo do Brasil: aqui, o governador, candidato à reeleição, desponta como liderança nacional do PT e seu governo, como experimento que pode reorientar o perfil do partido — tanto por suas realizações quanto por suas dificuldades eleitorais.
O Ibope confere 80% de aprovação ao governo de Cristovam Buarque, mas o coloca em segundo lugar nas pesquisas, da mesma maneira que a vice-governadora Arlete Sampaio, ex-presidente do Sindicato dos Médicos. Na periferia de Brasília, Joaquim Roriz (PMDB) vence; já o Plano Piloto vota maciçamente em Cristovam.
O governador disse ao Estado que é por falta de marketing nos últimos quatro anos que a população não associa sua candidatura à administração que aprova.
“As classes D e E são mais favoráveis a uma política populista”, acrescentou Arlete, referindo-se ao governo anterior, de Roriz. “Eu cuido dos pobres e dos trabalhadores, de quem precisa”, justificou Roriz ao Estado. “Se isso é populismo, então sou populista.”
Tanto Cristovam quanto o senador José Roberto Arruda, líder da bancada do governo no Congresso e candidato a governador pelo PSDB, acusam Roriz de ter “inchado” Brasília, distribuindo lotes para dezenas de milhares de imigrantes, sem infra-estrutura. Roriz responde que a meia-dúzia de novas cidades onde assentou os moradores de 64 favelas tem “todos os equipamentos públicos”. E pergunta: “E daí, se inchou? Aqui não é Brasília? Os pobres não têm o direito de melhorar de vida?”
Talvez mais concreta e eficaz ainda seja a rede assistencialista que foi montada pelo deputado distrital Luiz Estevão (PMDB), candidato ao Senado e líder disparado nas pesquisas. Estevão é dono do Grupo OK, o maior conglomerado de Brasília. Com faturamento estimado em US$ 270 milhões este ano, ele atua na área de construção civil, banco múltiplo, agropecuária, imobiliária e revenda de automóveis e pneus.
Sua Fundação Comunidade, criada em 1987, afirma distribuir 5 mil refeições por dia e 3 milhões de copos de leite de soja por ano. Também garante manter 40 bolsas de estudo por semestre, de um salário mínimo cada, na Universidade de Brasília, entre outras campanhas.
A propaganda do PMDB conjuga o assistencialismo com a acusação de que o PT não liga para os mais humildes, com base numa frase de Cristovam, habilmente retirada de seu contexto: “Não quero ser lembrado como o governador dos pobres.”
O PMDB também acusa “a polícia de Cristovam” de ter matado quatro pessoas, ao desalojar moradores da favela Estrutural, em agosto. Já o governador disse ao Estado que unicamente um policial morreu na desocupação. “Depois, duas pessoas apareceram mortas e o inquérito não está concluído”, disse Cristovam, garantindo que, se ficar provado o envolvimento de policiais, “é claro que serão punidos”.
Segundo o governador, “a Estrutural foi armada pelo Luiz Estevão e pelo
(deputado distrital) José Edmar (PMDB), com coquetéis molotov e revólveres”. Ao que Estevão responde: “Quem armou os moradores da Estrutural foi ele, que agiu com violência contra eles, cortou água, mandou cercar a Estrutural, proibiu os ônibus de passar para levar as crianças para a escola, o abastecimento de gás, a entrada de gêneros alimentícios, querendo matar as pessoas de sede, de fome.”
Batalhas retóricas à parte, o PT enfrenta uma dificuldade concreta: a falta de engajamento de muitos militantes — considerados o grande trunfo eleitoral do partido — e sobretudo dos sindicalistas. Há um contraste evidente entre a participação de quatro anos atrás e a de hoje.
“Cristovam não correspondeu à altura no tratamento aos funcionários públicos”, avalia José Zunga, presidente da CUT do Distrito Federal. No primeiro semestre, o governador enfrentou uma greve de professores de mais de dois meses, sem recuar.
A pesquisa do Ibope fechada ontem apresenta Roriz com 40% das intenções de voto, Cristovam com 35% e Arruda com 10%. Considerando apenas os votos válidos, Roriz alcança 44% das intenções, enquanto Cristovam tem 39% e Arruda, 16%, o que parece confirmar que o DF terá segundo turno. Já na disputa pelo Senado, Luiz Estevão alcança 45% das intenções de voto (53% dos votos válidos), vencendo Arlete, que fica com 23% (27% dos válidos).
Entretanto, a grande questão dessas eleições, se as pesquisas estiverem certas, é saber para quem vão os votos do senador Arruda no segundo turno. A pesquisadora Ida de Oliveira, do Instituto de Estudos Sócio-Econômicos (Inesc) acha que esses votos são de oposição ao PT e portanto vão para Roriz. “A não ser que Arruda tenha um posicionamento claro em favor de Cristovam.”