No Facebook, ministro do Interior do novo governo diz que ex-presidente será processado por assassinar ‘cidadãos pacíficos’
KIEV – O ex-presidente Viktor Yanukovich, deposto no sábado, foi declarado nesta segunda-feira, 24, procurado por “massacre”, em razão das mortes de dezenas de manifestantes em confronto com a polícia e por disparos de franco-atiradores na semana passada. Especulava-se que ele estivesse tentando fugir para a Rússia pela Crimeia, no sul do país, onde há uma base naval russa.
“Uma ação oficial por massacre de cidadãos pacíficos foi aberta”, informou em sua página do Facebook o ministro interino do Interior, Arsen Avakov. “Yanukovich e outras pessoas responsáveis por isso foram declaradas procuradas.”
Avakov faz parte do novo gabinete que deve ser anunciado na terça-feira com o nome do novo primeiro-ministro. O Parlamento destituiu Yanukovich no sábado, depois que ele deixou Kiev, e elegeu seu presidente o deputado Oleksander Turchinov. Membro do Partido Pátria, da líder oposicionista Yulia Tymoshenko, solta da prisão no sábado, Turchinov foi nomeado presidente interino no dia seguinte. O Parlamento marcou eleições para 25 de maio.
Acossado por milhares de manifestantes que ocupam o centro de Kiev desde novembro, Yanukovich fugiu na sexta-feira de helicóptero para Kharkiv, cidade no leste da Ucrânia. De lá, no sábado, o presidente deposto tentou embarcar em um voo fretado para a Rússia, mas foi impedido por funcionários do aeroporto, por “não portar documentos”.
Segundo Avakov, Yanukovich saiu de carro de uma residência privada em Balaclava, na Crimeia, com um assessor e um guarda-costas, para um destino desconhecido. De acordo com fontes ouvidas pela BBC, ele tentaria fugir pelo Mar Negro, com ajuda de navios de bandeira russa.
Socorro
A chanceler da União Europeia (UE), Catherine Ashton, chegou a Kiev para tomar pé da situação da Ucrânia, asfixiada pela escassez de moeda forte. De acordo com o Ministério das Finanças, o país tem US$ 6 bilhões em dívidas que vencem neste ano e precisa de US$ 35 bilhões em ajuda para os próximos dois anos.
A União Europeia contatou EUA, Japão, China, Canadá e Turquia para coordenar a ajuda, informou a Reuters. A pedido do governo interino, o chanceler francês, Laurent Fabius, disse na segunda-feira, em Pequim, que poderá ser feita uma conferência de doadores.
Do outro lado, a Rússia, que apoiava Yanukovich, considerou uma “aberração” o reconhecimento do novo governo por outros países.
A minoria russa, concentrada no leste e no sul, representa 17% da população da Ucrânia. O país é historicamente dividido entre as influências russa e europeia. A suspensão do processo de adesão da Ucrânia à UE, por pressão da Rússia, foi que desencadeou em novembro as manifestações.
Mesmo com a saída do presidente, a Praça da Independência, no centro de Kiev, continua ocupada. Os manifestantes exigem a punição de Yanukovich e de outros responsáveis pela repressão sangrenta.
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