Relações entre Turquia e Israel continuarão tensas

O presidente de Israel, Shimon Peres, celebrou a retomada das relações entre seu país e a Turquia. “Posso pensar em mil razões pelas quais a Turquia e Israel devem ser amigos”, disse Peres à CNN em turco. “Não vejo nenhuma razão pela qual não deveriam ser.”

O descongelamento das relações foi possibilitado pelo pedido de desculpas, na sexta-feira, do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, ao seu colega da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, pela morte em 2010 de nove pessoas durante abordagem de fuzileiros navais de Israel a um navio turco que tentava levar mantimentos para os moradores da Faixa de Gaza, furando o bloqueio imposto por Israel ao território palestino.

Trabalhista, Peres está bem à esquerda do Likud de Netanyahu. Israel e Turquia têm de fato interesses comuns na região, como o de apressar o fim do conflito na Síria e influir no seu desfecho, e o de evitar que o Irã adquira armas nucleares. E uma história de cooperação militar, que permitiu, no passado, troca de informações de inteligência e o uso do espaço aéreo turco por Israel. Entretanto, a reconciliação praticamente imposta pelo presidente americano, Barack Obama, não levará necessariamente a uma parceria entre os dois principais aliados dos Estados Unidos na região.

“O pedido de desculpas de Netanyahu é mais uma prova de que, nas relações internacionais, os interesses de Estado prevalecem sobre percepções ou falta de afinidade pessoal”, disse ao Estado o analista Hillel Frisch, do Centro de Estudos Estratégicos Begin-Sadat, no distrito de Tel-Aviv. “Entretanto, apesar da desculpa, as relações turco-israelenses continuarão tensas”, advertiu Frisch, na mesma linha de analistas turcos ouvidos pelo Estado na sexta-feira, para os quais elas não voltarão a ser como eram antes da ascensão, em 2002, do partido islâmico moderado Justiça e Desenvolvimento (AKP), de Erdogan.

“A Turquia, uma locomotiva econômica, está flexionando seus músculos na região, e sob Erdogan, está determinada a realizar ambições imperialistas que caracterizavam o Império Otomano”, analisa Frisch. Ele lembra que, no mesmo dia do pedido de desculpas de Netanyahu, um alto funcionário do Ministério das Relações Exteriores turco sugeriu que o Chipre, mergulhado em crise econômica que preocupa os países da zona do euro, adotasse a lira turca, como faz a parte norte da ilha, sob domínio da Turquia.

Israel explora gás natural em seu mar territorial vizinho ao do Chipre, e apoia a soberania dos cipriotas gregos sobre as jazidas de sua costa, na disputa com os turcos, aponta Frisch. “O anti-judaísmo de Erdogan é outro irritante no relacionamento”, acrescenta.

“Esse conflito de interesses prevalecerá sobre o interesse comum de livrar-se de Bashar Assad na Síria ou de conter um Irã nuclear”, prevê o analista israelense. “Mas esses interesses serão suficientemente fortes para evitar um conflito entre os dois Estados mais poderosos da região.”

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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