Líder da minoria impõe condições para reeditar o movimento que derrotou a Al-Qaeda
ERBIL, Iraque – Líderes da minoria sunita no Iraque acenaram ontem com a possibilidade de ajudar mais uma vez a debelar o extremismo sunita, desde que seus direitos fossem garantidos pelo novo governo do primeiro-ministro interino Haider al-Abadi, da maioria xiita. Abadi, que deve formar novo gabinete, depois que o ex-primeiro-ministro Nuri al-Maliki aceitou finalmente deixar o cargo na quinta-feira, recebeu ontem também o apoio do mais influente líder religioso xiita, o aiatolá Ali Sistani.
Um dos mais importantes líderes tribais do país, Ali Hatem Suleiman, admitiu ontem a possibilidade de arregimentar forças para enfrentar os combatentes do Estado Islâmico, que ocupam cerca de um quarto do território iraquiano, em áreas de maioria sunita, no norte do país. Seria uma reedição do movimento Despertar, que uniu líderes tribais sunitas, e com apoio dos Estados Unidos e do governo iraquiano, expulsou a Al-Qaeda das províncias do norte, entre 2006 e 2009.
Taha Mohammed al-Hamdun, porta-voz dos líderes tribais e religiosos sunitas, disse à agência Reuters que o grupo havia elaborado uma lista de reivindicações, a ser encaminhada a Abadi. Mas, para iniciar a negociação, Hamdun exigiu que as forças armadas iraquianas parem de bombardear redutos sunitas, e as milícias xiitas também suspendam suas operações nas províncias do norte.
O governo de Maliki reprimiu violentamente manifestações pacíficas nas províncias sunitas iniciadas em dezembro de 2011, depois da retirada das tropas americanas. Os sunitas se queixavam da falta de oportunidades sob o governo xiita. Com a repressão, começaram atentados a bomba executados por células sunitas, que abriram caminho para o avanço do Estado Islâmico, vindo da Síria.
Depois de relutar em ceder o poder, insistindo em cumprir um terceiro mandato de quatro anos, Maliki, pressionado internamente pelo seu próprio partido, Dawa, e também externamente, pelos Estados Unidos e pelo Irã, seu principal aliado, aceitou na quinta-feira entregar o cargo a Abadi, que havia sido indicado pelo novo presidente Fuad Massum. A partir de sua nomeação na segunda-feira, Abadi tem 30 dias para formar um gabinete com apoio da maioria do Parlamento.
O aiatolá Sistani fez ontem um apelo aos políticos iraquianos, para que assumam sua “reponsabilidade histórica” e colaborem com a formação do governo sob a liderança de Abadi, que pertence ao mesmo partido de Maliki, mas é considerado menos sectário e potencialmente mais inclusivo em relação à minoria sunita. “O apoio regional e internacional é uma rara oportunidade para resolver todos os problemas, especialmente os políticos e os de segurança”, disse Sistani, segundo seu porta-voz, em comentários depois da pregação da sexta-feira, a mais importante da semana, no santuário xiita de Kerbala, no sul do Iraque.
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