Caças americanos bombardeiam área em torno de represa

Objetivo é dar cobertura para avanço de forças iraquianas e curdas

ERBIL, Iraque – Caças F-18 da Força Aérea americana bombardearam ontem a área em torno da estratégica represa de Mossul. Os ataques tinham como objetivo dar cobertura ao avanço de forças iraquianas e curdas, na tentativa de recuperar a represa, tomada pelo Estado Islâmico no dia 7.

De acordo com fontes militares ouvidas pela rede de TV americana NBC, a decisão do ataque foi tomada mediante a informação de que os jihadistas não estavam em condições de dinamitar as barragens da represa,  responsável pelo abastecimento de água de boa parte do país e também pelo nível do Rio Tigre, que poderia ser inundado, se as comportas fossem abertas.

Moradores da região afirmaram à Associated Press que os bombardeios mataram combatentes do Estado Islâmico, que ocupam Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, a 90 km de Erbil, capital do Curdistão iraquiano.

Em reunião de emergência ontem em Bruxelas, os ministros das Relações Exteriores da União Europeia aprovaram comunicado apoiando a decisão de alguns países membros de enviar armas para os combatentes curdos, que resistem aos avanços do Estado Islâmico. A França, Alemanha, Inglaterra, República Checa e Holanda anunciaram que estudam enviar armas para os peshmergas, como são chamados os soldados curdos.

O documento se refere ao Iraque como “parceiro importante que precisa de forte apoio”, e ressalva que a ajuda militar deve ter a aprovação do novo governo do primeiro-ministro Haidar al-Abadi. O governo anterior, de Nuri al-Maliki, recusou-se a transferir para as forças curdas armas fornecidas pelos Estados Unidos, com receio de uma consolidação da autonomia do Curdistão, onde está concentrada parte das jazidas de petróleo iraquianas.

Em entrevista ao Estado, na linha de frente do combate com os jihadistas, 40 km ao norte de Erbil, peshmergas apontaram na sexta-feira a ironia de terem de enfrentar, com seus velhos fuzis AK-47, precárias metralhadoras artilhadas e canhões montados sobre caminhonetes, inimigos munidos de modernos tanques, peças de artilharia e fuzis fornecidos pelos Estados Unidos e confiscados do Exército iraquiano, que fugiu sem resistência de Mossul.

Os peshmergas, que em curdo significa “os que enfrentam a morte”, reiteraram que não querem o envio de tropas terrestres de outros países, mas apenas de armas com as quais possam lutar de igual para igual com o Estado Islâmico. Entretanto, um alto funcionário civil reconheceu que os curdos não lutam há mais de uma década. Sua última mobilização foi em 2003, durante a invasão americana do Iraque, apoiada pelo Curdistão. Mas não chegaram propriamente a lutar. O último combate real ocorreu entre 1994 e 1997, na guerra civil entre o Partido Democrático do Curdistão e a União Patriótica do Curdistão.

Em contrapartida, disse o funcionário, os jihadistas contam com ex-oficiais do Exército de Saddam Hussein, alguns dos quais debandaram para o Estado Islâmico, e conhecem bem o terreno. Mesmo assim, os peshmergas “têm o moral alto porque estão defendendo sua terra”, argumentou.

Ele reconheceu que para as potências ocidentais é delicado armar o exército de uma região autônoma com históricas aspirações à independência. Daí a ressalva de ontem no comunicado da União Europeia, sobre a aprovação do governo iraquiano. “Podem fazer um leasing das armas”, brincou.

Os peshmergas aproveitaram a ofensiva do Estado Islâmico para ocupar a cidade de Kirkuk, grande produtora de petróleo, abandonada pelo Exército iraquiano. Sua inclusão no Curdistão era uma velha aspiração. Além disso, a violenta campanha dos jihadistas, que não toleram não-sunitas, reforçou a desconfiança dos curdos em relação aos árabes. “Você viu?”, disse um peshmerga ao repórter do Estado. “Os árabes não gostam dos curdos, dos europeus, de ninguém.”

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