Moradores da cidade de Amerli resistem ao Estado Islâmico
ERBIL – Os Estados Unidos estudam realizar uma segunda operação humanitária no Iraque, dessa vez para livrar os moradores de Amerli, uma pequena cidade 170 km ao norte de Bagdá, cercada há dois meses pelo Estado Islâmico (EI). Moradores da cidade de cerca de 15 mil pessoas, habitada por turcomanos xiitas, resistem ao avanço dos jihadistas, mas estão sem receber munição, água e alimentos.
Assim como foi feito em relação à minoria yazidi nas montanhas de Sinjar, a operação envolveria o bombardeio de posições do EI, juntamente com a entrega de água e alimentos, despejados por aviões, segundo funcionários do Departamento de Defesa, citados por jornais americanos. Moradores da cidade, que fica do lado iraquiano da divisa com o Curdistão, disseram pelo telefone a repórteres que não recebiam ajuda das milícias xiitas porque não são árabes, nem dos Estados Unidos, porque são muçulmanos. Os yazidis, socorridos pelos EUA, são uma minoria curda que professa uma religião secreta, que mescla islamismo, cristianismo e zoroastranismo.
Com os bombardeios americanos e a ajuda de guerrilheiros curdos da Turquia, dezenas de milhares de yazidis conseguiram chegar a cidades do norte do Iraque sob controle dos curdos, onde estão acampados, e outras dezenas de milhares ainda estão nas montanhas. Os homens que defendem Amerli afirmam que sua munição está acabando, e temem um massacre.
O Comando Central das Forças Armadas americanas anunciou ter realizado ontem três ataques aéreos com um caça e um avião não tripulado nos arredores de Erbil, capital do Curdistão iraquiano, e da represa de Mossul. Foram destruídos um Humvee – blindado fornecido pelos EUA ao Exército iraquiano e confiscado pelos jihadistas em Mossul –, outros três blindados e um caminhão, e atingido um prédio ocupado pelo EI, segundo o comunicado. Com isso, subiu para 101 o número de ataques aéreos desde o início dos bombardeios, no dia 8.
Em represália aos bombardeios, o EI decapitou o jornalista americano James Foley e ameaça executar outro, Steven Sotloff. Sua mãe, Shirley Sotloff, fez ontem um apelo ao líder do grupo, Abu Bakr al-Baghdadi, para que solte seu filho. Sequestrado em agosto do ano passado em Alepo, no norte da Síria, Sotloff aparece no final do vídeo da decapitação de Foley, na semana passada. Um homem encapuzado diz que a vida dele depende da decisão do presidente Barack Obama de pôr fim aos ataques aéreos.
“Como mãe, peço que sua justiça seja misericordiosa e não puna meu filho por questões sobre as quais ele não tem controle”, apela Shirley, em um vídeo. “Peço-lhe que use sua autoridade para poupar a vida dele e seguir o exemplo do profeta Maomé, que protegeu povos do livro”, recordou ela, usando uma referência que os muçulmanos fazem aos cristãos e judeus, como povos monoteístas que seguem o Velho e o Novo Testamento, citados no Alcorão.
No ano passado, o EI havia exigido 100 milhões de euros (o equivalente a R$ 300 milhões) para soltar Foley, capturado em novembro de 2012 na província de Idlib, norte da Síria. Diferentemente de países europeus, que pagam discretamente resgates, o governo americano tem por política não negociar com sequestradores, para não estimular essa prática.
Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.