Morte de Eduardo Campos, escândalos de corrupção, oscilações nas pesquisas, ataques na propaganda e nos debates marcaram campanha
Lourival Sant’Anna
O bombardeio do horário eleitoral e do noticiário político, a morte de Eduardo Campos e a ascensão de Marina Silva fizeram muitos brasileiros rever suas posições nos últimos cinco meses, deslocando-se em todas as direções. Campos, o menos conhecido dos três principais candidatos, e depois Marina, a mais nova, roubaram votos tanto de Dilma Rousseff quanto de Aécio Neves. Ambos também ganharam novos adeptos. Na reta final, os debates e os resultados das pesquisas levaram alguns eleitores a oscilar entre os candidatos. Outros deixaram para definir a escolha na última hora.
O Estado voltou a falar com os mesmos eleitores que havia entrevistado em maio, em seis cidades de seis Estados nas cinco regiões do País: Machadinho (RS), São Paulo, Belo Horizonte, Goiânia, São Vicente Ferrer (PE) e Manacapuru (AM). Orientada por pesquisas do Ibope, a reportagem definiu grupos de eleitores com base na renda, no nível de escolaridade e na opção entre continuidade e mudança. Foi seguido o mesmo equilíbrio entre homens e mulheres e faixas de idade, observado nas pesquisas.
As novas entrevistas revelam, por trás das diferentes escolhas e dos dilemas dos eleitores, o impacto dos escândalos de corrupção e dos problemas econômicos, a percepção de uma Marina inconsistente e o desgaste do PSDB, que esteve antes no governo. Por outro lado, mostram também a força da aprovação do governo, a simpatia pelas propostas e pelo perfil pessoal de Marina e a adesão persistente às plataformas do PSDB por uma parte do eleitorado.
Os textos que seguem não pretendem oferecer dados estatísticos, mas sim preenchê-los com eleitores de carne e osso, em sua difícil e, às vezes, tortuosa trajetória rumo ao voto.
DILMISTAS TEMEM MUDANÇA PARA PIOR
Uma proporção bem maior de eleitores de Dilma Rousseff do que dos outros candidatos já tinha se decidido por ela em maio. A presidente conquistou comparativamente poucos eleitores, entre os entrevistados pelo Estado. Os principais motivos do apoio à reeleição são a satisfação com o andamento da economia, entre os pequenos comerciantes; maior facilidade do crédito, inclusive o consignado, para os aposentados; o Bolsa Família; e uma sensação geral de que as coisas estão melhorando, acompanhada de um receio de que mudem para pior.
Vaivém. Nem mesmo uma candidatura sólida como a de Dilma esteve livre de oscilações. Antônio Francisco da Silva, trabalhador rural aposentado de 64 anos em São Vicente Ferrer (PE), é o retrato dessa situação. Em maio, se mostrou eleitor entusiasta de Lula, porque “ajudou muito os pobres”. Por extensão, pensava em votar em Dilma. Em setembro, no entanto, no calor da ascensão da candidata do PSB, Silva disse: “Vou votar em Marina agora. Não gosto de votar em perdido. Dilma está perdida. Só gosto de votar em quem ganha sempre.” À pergunta sobre se gostava de Marina, respondeu: “Se ela não prestar, nós tiramos e colocamos outro”. Mas na semana passada, Silva mudou de novo de posição: “Rapaz, a Marina não tem condição de mudar o Brasil. Não tem coragem nem de comer, que ela está muito magra. Se ganhar, não passa um ano viva não. Vou votar em Dilma, mesmo, é melhor”.
Sem TV. A agricultora Maria Auxiliadora da Silva, de 26 anos, que vive na zona rural de São Vicente, também tinha dito que votaria em Dilma em maio. “Está sendo bom. Se entrar outro, pode ser que não faça o que ela está fazendo”, justificou Maria, cujo benefício do Bolsa Família aumentou de R$ 20 para R$ 100 de 2009 para cá. Em setembro, disse ter ouvido que Marina e Aécio Neves acabariam com o Bolsa Família: “Aí, como é que a gente vai viver?” Depois dos desmentidos de ambos, na semana passada, ela estava entre Dilma e Marina. Mesmo não tendo visto o debate da noite de quinta-feira, porque sua TV está com defeito, ela só se decidiu na sexta-feira por Dilma: “Vou ver se fica melhor ou piora”.
Continuação. São Vicente Ferrer, no agreste pernambucano, é reduto do PT. Ivonete Maciel, de 50 anos, que tira R$ 70 por semana em sua carrocinha de cachorro quente e outros R$ 70 do Bolsa Família, não arredou. Em maio, ela havia dito: “Vou votar por continuar. Está bom, do jeito que está. O pessoal tem tudo na mão. Quem não podia comprar celular, agora pode. Era muito difícil a pessoa comprar uma televisão. Agora, é mais fácil, com ela lá.” Ivonete lembrou: “Antes do Lula, não tinha no que trabalhar. Depois que ele entrou, melhorou muito”.
Sem opção. A percepção de falta de alternativas fez o recalcitrante Napoleão Almeida Ruas, de 49 anos, dono de banca de jornal no centro de Belo Horizonte, optar por Dilma. Ele havia dito, em maio: “Não vou votar em ninguém. Estou descrente com política. É só decepção, muito sofrimento, e a gente não vê retorno”. Depois do horário eleitoral, ele mudou. “Não tem candidato. Mexer no que está não adianta. A Marina não vai governar”, prevê Ruas, que em 2010 votou na ex-ministra do Meio Ambiente. “Não tem poder. Não tem firmeza, conhecimento. Outros vão governar para ela.” Quanto ao ex-governador de seu Estado: “Aécio é fraco. Esteve forte quando governou aqui em Minas. Depois, com o que entrou no lugar dele, do partido dele, (Antônio) Anastasia, as regiões no interior não tiveram acesso a quase nada.”
Esperança. Maria Aparecida Albido, de 45 anos, dona de um estande de bijuterias em uma galeria no centro de Belo Horizonte, escolheu Dilma com uma sensação semelhante: “Não tem candidato para a gente. Vou votar para continuar isso aí. Os outros dois candidatos que estão melhorzinhos (nas pesquisas) não são páreos pra ela”. Em maio, Maria havia dito que votou em Dilma em 2010 “sem contentamento”, que antes votara em Lula, e que ele fora melhor que ela.
Propostas. Em Machadinho (RS), o voto de Raul Tessaro, agricultor de 66 anos, estava indefinido em maio, embora ele sempre tivesse votado no PT. “Estudei as propostas dos candidatos e fiquei com a Dilma”, conta ele agora. “A melhor proposta de governo é a dela. Em time que está ganhando não se mexe”, prosseguiu Tessaro, que em maio havia reconhecido que a vida tinha melhorado nos últimos anos, tanto para aposentados quanto para agricultores.
Satisfação. Próspero balneário no norte gaúcho, Machadinho tem muitos eleitores de Dilma entre os que fizeram só o ensino fundamental, das classes A/B. Osmar Danieleski, de 50 anos, dono de supermercado, continuou com Dilma. “Para mim, não mudou nada.” Ele avalia que seu negócio progrediu graças ao aumento do poder de compra da “classe mais pobre” nos governos de Lula e de Dilma.
Receio. “Agora, está me firmando mais ainda o voto para Dilma, porque estou vendo a capacidade dos concorrentes”, declarou Celsoir Escorteganha, de 58 anos, criador de cavalos e dono de loteamento em Machadinho. “Havia esperança no Aécio, mas, na campanha, ele só bateu, não mostrou o futuro, o amanhã dele. E a Marina é uma incógnita. É um perigo: pode dar bom demais e pode dar um estouro.” Escorteganha, que votou em José Serra (PSDB) na eleição passada, receia uma mudança para pior, que prejudique os negócios.
Perspectiva. Leda Santos, de 51 anos, de Belo Horizonte, que este ano arranjou um emprego, de operadora de caixa, enquanto faz o curso técnico de logística, continua associando a presidente a suas perspectivas de uma vida melhor: “Acho que o trabalho a longo prazo precisa ser desenvolvido melhor”. “Sou fruto do descaso dos governos anteriores”, analisa Leda. “Quem chegou depois, teve outra realidade. Não vejo por que tirar o PT para colocar quem já esteve no governo e não fez nada pelo povo.”
Tolerância. Pela continuidade, Manuel Lopes, de 48 anos, vendedor de consórcios em Manacapuru (AM), está disposto a tolerar os escândalos de corrupção e continuar com Dilma. “Sai um governo, é corrupto, sai outro, é corrupto. Pelo menos esse daí ainda continua vindo lá do Fernando Henrique, dando Bolsa Família, ajudando os mais necessitados. Por isso, vou continuar com ela”, diz. “É óbvio que o que ela está fazendo é colocando o cidadão mal acostumado, ele poderia estar trabalhando.” O vendedor cita o caso do mensalão: “Você vê o desvio de dinheiro, os caras condenados, provas e provas, e os caras saíram. Isso é uma vergonha para nossos magistrados. Isso é Brasil. É revoltante. Vamos tirar esses princípios lá de fora e olhar para o Brasil. Se a Marina ganhar, e se ele fizer a mesma coisa?”
Convicção. “Se tirar Dilma, piora”, teme Elisa Queiroz, de 40 anos, dona, com o marido, de um caminhão para transporte de areia, e vendedora de cosméticos em Manacapuru. “Tem de ser ela mesma.” Em maio, Elisa havia citado que os negócios estavam melhorando, elogiou o acesso mais fácil ao crédito e o Programa Luz Para Todos.
AÉCIO CONCENTROU VOTO ANTIPETISTA
Assim como Marina Silva, Aécio Neves também atraiu votos, ao longo da campanha, antes destinados a Dilma Rousseff, embora em menor proporção. A maioria de seus eleitores já votava antes no PSDB, gostou de sua gestão em Minas Gerais ou tem ojeriza ao PT.
Debates. Osmar Taufer, de 46 anos, cuja família tem fazenda cerealista e loja de material de construção em Machadinho (RS), já sabia em maio que não votaria em Dilma, mas só se decidiu entre Aécio e Marina depois do debate da noite de quinta-feira: “O plano dele é melhor, o cara tem mais condição de governar esse Brasil. O PT só lembra de cobrar imposto, é uma ladroagem”.
Propostas.Em Goiânia, Cleyde Borges, de 38 anos, vendedora de roupas, estava na mesma situação. Confessa que dormiu durante o debate, mas também se decidiu: “Acho que ele sobressaiu. Tem propostas melhores do que a Marina”.
Dúvida. Dono de uma loja de bebidas em Machadinho, Carlos Schneider, de 53 anos, disse em maio que votaria na presidente. “Acho que Dilma tem de continuar o que está fazendo. Os outros não vão chegar lá nunca.” Depois, Schneider repensou seu voto: “Não sei se é bom que a Marina ganhe ou continue a Dilma. Mas estamos aí, temos de fazer alguma coisa. No primeiro turno, vou de Aécio. Depois, a gente vê o que faz.”
Imposto. Alceu Marcon, de 51 anos, que tem três micro-ônibus e duas vans para o transporte de turistas nesse balneário gaúcho, dizia em maio que votaria em “mudança com Dilma”: “Nós só trabalhamos para pagar imposto”. Acabou votando em mudança com Aécio: “Precisa trocar, que está muita roubalheira. Trocar de ladrão”.
Menos mal. Em São Paulo, a restauradora Maria Teresa Vidigal, de 54 anos, havia criticado duramente o PT em maio, mas não sabia em quem votaria. “O menos mau me parece ser o Aécio”, avaliou. “O Lula deu todos os cargos para ajudar o PT. A Petrobrás, que era saudável, está quebrada”, lamenta. “Agora entra Marina para estragar um pouco mais. É uma outra Dilma só que talvez pior ainda.”
Reduto tucano. “Desses que estão aí, Aécio é o menos pior”, concorda Lívia Fernandes, de 35 anos, dona de lanchonete em Goiânia. “Dilma não fez nada”, considera Lívia, que também votou em Serra, nesse forte reduto tucano representado pela classe média.
Economia. Wesley Santos, de 23 anos, motorista de um bufê de festas em Goiânia, havia manifestado em maio insatisfação com o governo, citando a inflação e a “desorganização” da economia. “Aécio Neves. Continuo com a minha opinião”, diz ele, embora em maio não soubesse em qual oposicionista votaria.
‘Aecinho’. Em maio, Walter Santos, de 51 anos, gerente de lanchonete na região central de Belo Horizonte, estava entre Aécio e Eduardo Campos. “Aecinho”, responde agora. “O PT vai acabar com nosso País. E Marina não tem bagagem. Aécio é o melhorzinho.”
Consciência. Desde maio, Helvando Santos, de 66 anos, aposentado e vendedor em uma camisaria no bairro, na região central de Belo Horizonte, já sabia que não votaria em Dilma, principalmente porque o valor da aposentadoria não estava acompanhando o salário mínimo: “Ela prometeu muitas coisas para o aposentado e não cumpriu nada”. Na reta final, escolheu Aécio, mesmo duvidando que ele ganhe.
Lista de rejeição. Patrícia Pimenta, de 60 anos, publicitária em São Paulo, também já sabia em maio que não votaria em Dilma. Depois, Marina se juntou à sua lista de rejeições. “Não votaria na Dilma e na Marina nem a pau. Preferia votar no pastor (Everaldo, do PSC)”, diz ela. “Tenho pavor da Marina, acho completamente bipolar. Tenho muitas dúvidas desse acidente (que matou Eduardo Campos).” Quanto à presidente: “Dilma não tem noção do que está fazendo. Está muito mal assessorada”.
Mudança. Edcarlos Figueiredo, de 31 anos, que trabalha com segurança da informação em São Paulo, votou no PSDB na última eleição. Em maio, ainda não tinha candidato. No mês passado, estava “90% decidido” por Aécio. Seus “10% de dúvida” se referiam à possibilidade de algum candidato “chegar e fazer uma mudança drástica”, o que ele deseja. Citou como sua maior fonte de insatisfação o fato de os governos anteriores terem ajudado mais Norte e Nordeste. Na reta final, definiu-se por Aécio.
Potencial. Em sua primeira eleição, Suzy Santos, de 19 anos, que trabalha em uma loja de colchões em Goiânia, estava em maio desiludida com os políticos. Pensava em votar nulo. Ao longo da campanha, pensou votar em Campos, “só para não votar na Dilma”. Depois em Marina, “uma candidata bem conclusiva”, enquanto que “a Dilma é aquela novela, é difícil ela concluir uma frase”. Na reta final, Suzy escolheu Aécio. Ela critica o nível dos candidatos: “Fico com Aécio, que tem QI elevado”.
Sem dúvida. Segundo-sargento da PM reformado em Belo Horizonte, Paulo Mathias, de 56 anos, está decidido há mais tempo. Em maio, ele já pensava em votar em Aécio, afirmando que ele melhorou a situação dos funcionários públicos. “Fez muita coisa boa aí.”
Melhorias. Jennifer Nascimento, de 23 anos, estudante de Direito em Belo Horizonte, votou em Marina em 2010. Em maio, ainda estava pesquisando. Decidiu-se por Aécio. “Pelas propostas e também por algumas melhorias que ele fez em Minas, acredito que possa fazer mais pelo Brasil.”
Cartão de visita. A gestão de Aécio como governador de Minas é um importante cartão de visita, mesmo fora do Estado. Julio Figueiredo, de 47 anos, vendedor de softwares de uma multinacional em São Paulo, já estava inclinado pelo PSDB. “O que mais me preocupava era a história do aeroporto. Fiquei satisfeito com as explicações”, diz ele, referindo-se à desapropriação de um terreno de propriedade da família de Aécio, com verbas do governo mineiro.
Voto partidário. Em Goiânia, Sirlene Borges, de 34 anos, vendedora em uma loja de bijuterias no Setor Marista, acredita que Aécio será um bom presidente: “Pelas propostas que vi na TV, pelo que ele fez pelo Estado de Minas Gerais”. Sirlene votou em José Serra, também do PSDB, em 2010, e em maio só tinha certeza de que não votaria em Dilma: “A inflação está demais. Não adianta subir o salário se os preços sobem mais”.
Reta final. Contrária a benefícios sociais para presidiários e para prostitutas e também ao Bolsa Família, Inês Miola, de 54 anos, dona de supermercado em Machadinho, não tinha escolhido um candidato até setembro. Decidiu-se por Aécio Neves. “Sei lá. Simpatizei com ele. Para falar bem a verdade, eu até nem assisto nada na televisão referente a política.”
MARINA ATRAIU QUEM BUSCA O NOVO
Marina Silva atraiu os votos de eleitores que já haviam votado nela em 2010, dos que gostavam de Eduardo Campos, dos que estavam desanimados com as eleições – mas tomaram gosto por suas propostas e seu perfil – e até de quem pensava em votar em Dilma Rousseff, mas mudou de ideia sob o impacto dos escândalos de corrupção.
Decepção. Quando falou ao Estado em maio, Edcarlos Magalhães, de 33 anos, dono de joalheria em Manacapuru (AM), disse que votaria na reeleição da presidente por causa do Bolsa Família e do aumento do salário mínimo, pela ajuda que representa aos pobres e aos seus negócios. “Mudei de opinião porque é um monte de bomba, de mensalão, um monte de fraude do PT.”
Escândalos. É o mesmo caso de Socorro Franco, de 48 anos, dona de uma loja de roupas em Manacapuru há 20 anos. Ela ia votar em Dilma porque “ajudou muito os pobres e o comércio”. Trocou por Marina: “Tem de mudar muitas coisas que a gente está vendo errado que passa na televisão. A Dilma já tinha de deixar isso para outro”. Ela cita o escândalo da Petrobrás e da compra da usina de Pasadena. Socorro continua: “Marina parece uma pessoa bem séria. Tem um passado bom”.
Equipe. A estudante de Direito Izabela Trigueiro, de 27 anos, que trabalha com recepção de eventos em Belo Horizonte, votou em Marina em 2010. Em maio, disse que não votaria em Eduardo Campos, e já nem sabia se votaria em Marina, se ela fosse candidata. No decorrer da campanha, ficou animada com ela: “Eu acredito na mudança dela”. Izabela conta que fez a recepção de um evento no qual o economista Eduardo Giannetti, da equipe de Marina, deu uma palestra. “Foi muito bacana. Acredito que agora a Marina está bem assessorada.”
Efeito Campos. “Eu estava meio desiludido, mas agora ficou melhor um pouquinho”, relata Marcos Antonio da Silva, de 42 anos, que trabalha em uma barraca de aves no Mercado Municipal de Belo Horizonte. “Acho que mudou um pouco minha opinião. Entre Dilma e Aécio, ia votar no Aécio”, recorda Silva. “Mas depois o rapaz (Eduardo Campos) morreu.” Ele escolheu Marina “por ela não fazer acordo com PT nem PSDB nem nada”. Mas guarda um traço de mineira desconfiança: “Tem de ver se ela vai honrar isso, porque depois, lá, sozinha, é complicado”.
Renovação. José Cirineu de Oliveira, de 42 anos, dono de uma barraca de lanches no Setor Marista, bairro de classe média alta de Goiânia, sempre votou no PT. Mas em maio havia dito que estava “descontente com o meio político, porque é uma roubalheira”, e que, se Marina fosse candidata, votaria nela, “por renovação”. “A bagunça continua. Esses que foram punidos acho que foi só fachada”, referindo-se aos condenados do mensalão. “Já estão sendo soltos.”
Meio ambiente. “As propostas da Marina são as que mais me agradam”, explica Josy Menezes, de 23 anos, secretária em um escritório de advocacia em Goiânia, cuja classe média tem forte tendência antipetista. “Ela fala bastante de meio ambiente, tem um plano de governo completo, que une o crescimento do País, que era posição forte do Eduardo Campos, à sustentabilidade. Estava pensando em votar nele mais por causa da Marina.” Antes da morte de Campos, em 13 de agosto, Josy ainda não o conhecia bastante. Em maio, quando falou com o Estado, só sabia que não votaria em Dilma. “A minha revolta contra o PT continua, principalmente agora, com esse estouro da Petrobrás, que na verdade vem de anos, e a Dilma teve o azar de só estar estourando agora.”
Regionalismo. Isaac Ruas, de 63 anos, dono de uma pousada em Machadinho, no norte do Rio Grande do Sul, também só sabia em maio que não votaria em Dilma por ela se opor à redução da maioridade penal. No transcorrer da campanha, também tinha optado por Eduardo Campos. Agora, aderiu a sua colega de chapa, por um motivo extra: “Beto Albuquerque é gaúcho, conhece muito bem a nossa região”, destaca Ruas, referindo-se ao vice de Marina. Ele diz que para Machadinho atrair mais turistas, e escoar melhor sua produção de soja e milho, precisa do asfaltamento da estrada de 27 km que liga a cidade a São José do Ouro, no sul de Santa Catarina. “Se o Beto não conseguir verba federal, outro não vai fazer.”
Novo. Alex Paulucio, de 23 anos, que trabalha com moda em São Paulo, também pretendia votar em Campos e agora ficou com Marina. “Não tem opção, já que o outro morreu”, lamenta. “Preferia Eduardo porque tem carreira política que me convence mais e é mais novo. Por ora, a Marina é a melhor opção.”
Voto útil. Em maio, Renata Lettiere, de 36 anos, que trabalha em uma empresa de call center, só tinha uma certeza: não votaria em Dilma. “PT não quero mais. O que tinha para mudar, já deu. Doze anos é muito tempo”, considera ela. “Bolsa Família, tudo bem, tem uma classe desprivilegiada, mas eles acabam remediando e as pessoas não saem da situação. Não melhora a escola.” No decorrer da campanha, Renata definiu-se por Eduardo Campos. “Minha vontade era anular meu voto. Só não faço isso para não contribuir com a reeleição”, disse Renata, que votará em Marina meio a contragosto: “Não sou muito fã dela. Ela já foi do PT. Acho errada essa mudança de comportamento só porque mudou de partido. Não acredito muito nisso. As pessoas vestem outra camisa por interesse político”. Mas Renata não vê alternativa em Aécio: “Não conheço muito o trabalho dele, mas a forma dele de se portar nas entrevistas não me passa confiança”. Ela gosta das propostas do Partido Verde, mas não de seu candidato, Eduardo Jorge: “Aquele cara não tem postura nenhuma para presidente”.
Otimismo. “Temos Aécio, que é guerreiro, e tem até mais experiência, mas Marina tem experiência também, e tudo indica que vai para o segundo turno”, raciocinou Roberto Alves, de 57 anos, dono de um estande de roupas em Belo Horizonte. “Vai fazer bom governo. Vai pegar gente capacitada e vai dar certo.” Em maio, ele ainda não tinha decidido, mas estava propenso a votar em Aécio. Mas diz que não o trocou por Marina por causa das pesquisas, e sim porque realmente a prefere. “O problema da Dilma foi muita corrupção e roubo”, critica ele.
Plano de governo. Em Manacapuru (AM), Dilma perdeu o voto de Adriana Amorim, de 24 anos, que trabalha em uma financeira de crédito consignado, e pensava votar na presidente, em maio, por causa de programas sociais como o Bolsa Família. “Decidi votar na Marina pelo projeto dela”, declara Adriana. “Ela tem um plano de governo. Pretende deixar o que acha bom e fazer novos projetos.”
Revolta. Em maio, Marcos Sérgio Cavalheiro, de 26 anos, vendedor e estudante de contabilidade em Goiânia, não havia decidido ainda, mas dizia que Dilma “criou muitas expectativas e não pôs em prática”. Ele escolheu Marina, “entre tantas coisas, pela mudança”. Cavalheiro avalia que “o País não melhorou nesses anos todos”, e diz: “Acredito que pior do que está não fica”. Seu pai foi atropelado, “sofreu bastante” no SUS, conta Cavalheiro. Quebrou uma perna e uma clavícula e para fazer uma cirurgia, no Hospital de Urgências de Goiânia teve de esperar quase uma semana.