Anúncio foi feito por secretário de Estado americano e secretário-geral da ONU
GAZA – Israel e o Hamas concordaram ontem em fazer uma “trégua humanitária” de 72 horas. O anúncio foi feito pelo secretário de Estado americano, John Kerry, e pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon. Mais cedo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que Israel não aceitaria nenhum cessar-fogo com o Hamas que o impedisse de completar a destruição dos túneis ligando a Faixa de Gaza ao território israelense. Iniciada no dia 8 de julho, a missão ainda deve demorar mais alguns dias, segundo fontes militares.
As Forças Armadas israelenses convocaram 16 mil reservistas, que segundo essas fontes servirão para substituir os soldados que estão combatendo na Faixa de Gaza. A maioria deles não pertence ao efetivo. São reservistas que, até os 40 anos de idade, podem ser convocados durante um mês a cada ano.
“Estamos determinados a completar essa missão, com ou sem cessar-fogo”, disse Netanyahu, durante reunião com seu gabinete. “Não aceitarei nenhuma proposta que não permita a Israel terminar essa importante tarefa, em nome da segurança israelense.”
Dirigentes e porta-vozes do Hamas, por sua vez, têm dito que só aceitarão um cessar-fogo que inclua o fim do bloqueio israelense à Faixa de Gaza. Erguido depois que o Hamas tomou o poder em 2007, expulsando os dirigentes do grupo palestino moderado Fatah, que governa a Cisjordânia, o bloqueio permite apenas a entrada controlada de alimentos, medicamentos e combustível. Até mesmo materiais de construção vinham sendo vetados, segundo Israel porque eram usados para erguer de bases do Hamas.
Túneis ligando a Faixa de Gaza ao Egito vinham abastecendo o território, até que os militares egípcios se instalaram no poder, derrubando a Irmandade Muçulmana, aliada do Hamas, em meados do ano passado. Eles passaram a reprimir o contrabando, asfixiando economicamente o Hamas, que depende dos impostos arrecadados na entrada dos produtos – cerca de 60% de sua receita.
Apesar das posições aparentemente inconciliáveis, Israel enviou representantes para negociar o cessar-fogo no Egito e o conflito diminuiu de intensidade ontem. Enquanto na quarta-feira mais de 100 palestinos foram mortos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, ontem esse número chegou a 19. Uma van foi atingida por um míssil disparado por um avião israelense no centro de Gaza, matando uma pessoa.
O repórter do Estado viu vários outros locais atingidos por mísseis ontem na cidade. Às 21 horas (15 horas em Brasília), um míssil foi disparado por um navio israelense na costa mediterrânea, a pouca distância do local onde o repórter está hospedado. Durante todo o dia, e também à noite, eram ouvidos continuamente disparos da artilharia israelense. Um deles danificou uma mesquita e lançou fragmentos contra uma escola em Beit Lahiya, no norte da Faixa de Gaza, onde estão abrigadas famílias que fugiram dos bombardeios. Ao menos 30 pessoas ficaram feridas, segundo as agências de notícias.
A contagem de mortos agora chega a 1.410 palestinos, além de 7 mil feridos. Do lado israelense, 56 soldados foram mortos e 400 feridos. Outros 3 civis, dois israelenses e um tailandês, também morreram, atingidos por foguetes do Hamas. O grupo palestino afirmou ter disparado ontem um foguete contra Tel-Aviv, a principal cidade do país. Israel afirmou que o foguete foi interceptado pelo escudo de mísseis Cúpula de Ferro. Ainda segundo as autoridades israelenses, mais de 60 foguetes foram disparados ontem da Faixa de Gaza.
Um funcionário do governo israelense disse ontem ao Estado que a Cúpula de Ferro, instalada no último ano e meio por Israel, interceptou 300 foguetes disparados pelo Hamas nas últimas três semanas. Os mísseis só interceptam foguetes que tenham como alvo regiões povoadas, o que significa que o número de projéteis disparados é bem maior.
“O escudo salvou vidas dos dois lados”, disse o funcionário. “Se esses mísseis tivessem caído em cidades israelenses, matado dezenas de pessoas e produzido muitos danos materiais, a população estaria pressionando o governo a agir com muito mais energia na Faixa de Gaza.”
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