Cessar-fogo foi interrompido depois que Hamas matou dois soldados e capturou um terceiro, segundo Israel
GAZA – A trégua de 72 horas entre Israel e o Hamas, resultado de enorme esforço diplomático dos Estados Unidos e da ONU, durou 1h30. Israel voltou a castigar a Faixa de Gaza com disparos de tanques, depois que o Hamas matou dois soldados israelenses e capturou um terceiro, segundo militares israelenses. O dia da suposta trégua acabou com 62 palestinos mortos – mais do triplo da véspera, quando haviam morrido 17 – e 350 feridos. As negociações podem ser retomadas amanhã, no Egito.
Conforme havia avisado, Israel manteve as operações de destruição dos túneis que ligam a Faixa de Gaza a seu território. E foi justamente em um desses túneis que a trégua sucumbiu: combatentes do Hamas, um deles suicida, emboscaram soldados israelenses na saída de um túnel no sul da Faixa de Gaza.
De acordo com o tenente-coronel Peter Lerner, porta-voz do Exército israelense, um dos combatentes detonou o colete com explosivos que levava. Seguiu-se troca de tiros, dois soldados foram mortos e um terceiro, identificado como o tenente Hadar Goldin, de 23 anos, foi levado pelos combatentes. Lerner disse que o Exército estava fazendo um “esforço extenso” para localizar o oficial. Osama Hamdan, porta-voz do Hamas, negou que o grupo tenha capturado um militar israelense.
O confronto eleva para 61 o número de soldados israelenses mortos, desde o início da ofensiva, dia 8 de julho. Mais de 400 foram feridos. Outros 3 civis, dois israelenses e um tailandês, também morreram, atingidos por foguetes do Hamas. Do lado palestino, segundo o Ministério da Saúde em Gaza, foram 1.509 mortos – a grande maioria, civis – e mais de 8.300 feridos.
A trégua foi anunciada na noite de quinta-feira pelo secretário de Estado americano, John Kerry, e pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon. A noite de quinta para sexta-feira foi de intensa atividade da artilharia israelense. O repórter do Estado ouviu também o disparo de ao menos dois mísseis. A trégua entrou em vigor às 8 horas locais (2 horas em Brasília). Ávidos para trabalhar depois de três semanas parados, pescadores saíram de manhã para pescar em seus barcos no Mediterrâneo, e crianças foram nadar no mar.
Famílias carregando colchões e outros pertences, de carro ou mesmo a pé, começaram a voltar para suas casas nas áreas atingidas pelos bombardeios. Mohamed Abu Halim, de 25 anos, que morava em um prédio ao lado de uma mesquita, ambos destruídos, contou ao Estado que, na noite de 23 de julho, estava em casa quando o bombardeio começou. Cerca de 50 pessoas moravam no prédio, e todas fugiram, sem ninguém ficar ferido, disse Halim, funcionário do Ministério da Economia.
Enquanto ele falava com o repórter, chegou a notícia de que Israel tinha voltado a bombardear. Halim e outros moradores saíram correndo. Um carro passou levando o corpo de um morto no bombardeio, segundo transeuntes. O repórter seguiu para o extremo leste da Cidade de Gaza, na fronteira com Israel, e viu os tanques do Exército israelense disparando contra alvos dentro da Faixa de Gaza. Somente no mercado de Rafah, no sul do território, 40 pessoas foram mortas e 250 feridas em um ataque israelense que se seguiu à emboscada na entrada do túnel.
Politicamente, a captura de soldados israelenses é mais dramática do que sua morte, porque dá início a um debate interno, sobre se Israel deve negociar com o inimigo, e em que termos. Em 2011, o soldado Gilad Shalit foi solto pelo Hamas, depois de cinco anos de cativeiro, em troca da libertação de 1.027 palestinos. A captura de Goldin, ontem, confirma um dos maiores temores de Israel: de que a rede de 31 túneis ligando a Faixa de Gaza a seu território seria usada com esse fim, além de ataques-surpresa contra os kibutzim (fazendas coletivas) ao longo da fronteira.
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